Revista Diário - 10ª Edição - Setembro 2015

Omais importante cartão postal deMacapá, a orla da cidade, está perdendo a queda de braço que trava como rioAmazonas desde a década de 1990, quando a avenida Beira Rio foi construída como resultado do avanço das águas embusca do espaço perdido como aterro demais de cemmetros ao longo de aproximadamente quatro quilômetros, partindo da Fortaleza de São José ao Complexo doAraxá. D e acordo com levantamento do Instituto Estadual de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Ie‐ pa), o processo de erosão atingiu 36metros em três anos, e agora registra desbarrancamento de quase cinco metros por ano, que já resultou no desabamento de deze‐ nas de casas no bairro Aturiá, com previsão de chegar a proporções aindamais preocupantes, inclusive já afetando as estruturas de vários imóveis do entorno. O geólogo e pesquisador Antônio da Justa Feijão garan‐ te que a Escola Municipal Maria José dos Santos Ferreira, no bairro Aturiá, não resistirá à erosão até às eleições de 2018. Segundo ele, essa queda de braço só vai ter um ven‐ cedor, e pode ser o rio, caso não sejamexecutados serviços para conter o seu avanço sobre a cidade. “Ou a cidade toma um empréstimo do rio ou o rio vai tomar conta da cidade. Essa decisão deve ser feita pela so‐ ciedade e pelos governantes. O rio Amazonas, entre Maca‐ pá e Belém, tem280 quilômetros de largura. Pedir empres‐ tado ao rioAmazonas 90metros não seria, percentualmen‐ te, nenhum dano considerável. Ou se faz isso, com o obje‐ tivo de protegerMacapá, principalmente a frente da cidade, cuja infra‐estrutura nos custou milhões de reais com a construção de casas, escolas, muros de arrimo, bares e res‐ taurantes, ou é ele, o rio, que no máximo em 40 anos vai tomar esse espaço deMacapá, porque todo ano ele derruba um pedaço considerável, e um dia, com o seu avanço, o Amazonas vai derrubar a avenida Beira Rio inteira”, vatici‐ na Feijão. A derrubada do muro de arrimo começou em 2008. A Defesa Civil aponta como solução a construção de umnovo muro de arrimo, cujas obras, aliás, foraminiciadas em2013 comprevisão de umano para ser concluída. O projeto cus‐ tou pouco mais de R$ 12 milhões, dos quais R$ 4 milhões destinados pelo governo federal, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e R$ 8 milhões em re‐ cursos próprios do governo do estado. Os serviços, entre‐ tanto, foramparalisados emmeados de 2014, comapenas 30% da obra concluídos, os quais também já estão sendo destruídos pela erosão. Especialistas afirmam que esse processo de utilização, intervenção e os sucessivos métodos de aterramento da área entre o rio e o continente ocorreram de forma desor‐ denada, e sematender às normas de proteção de áreas cos‐ teiras, resultando no desequilíbrio dos processos da ocu‐ pação (construção) e os recursos naturais. Exemplo dessa realidade é a obra de reconstrução do muro de arrimo. Odoutor emgeologia aquáticado Iepa, AdmilsonTorres, concorda comessa tese: “Ocrescente edesordenadoavanço da urbanização macapaense, além de causar impactos ne‐ gativos na orladeMacapá, coloca emrisco apopulação resi‐ dentedevidoàdinâmicados processos costeiros que atuam namodificação e evolução das feições de relevo”. ● Atualidade Macapá está perdendo duelo que trava como rioAmazonas Revista DIÁRIO - Setembro 2015 - 58 Texto: Ramon Palhares e Kadja Tavares Fotos: Marcones Brito e Antônio Feijão

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