Revista Diário - 9ª Edição - Agosto 2015

Revista DIÁRIO - Agosto 2015 - 54 E m 11 de agosto de 1827 foi criado o pri‐ meiro curso de Ciências Jurídicas do país: a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, hoje integrada na estrutura da Universidade de São Paulo. De lá para cámuita coisamudou no ensino da ciência que estuda as leis: milhares de fa‐ culdades foramcriadas por todo o país, novos métodos de difusão do conhecimento desen‐ volvidos e novas tecnologias passaram a ser empregadas em larga escala. Também o mer‐ cado de trabalho foi modificado pela horda de indivíduos graduados em Direito todos os anos, fato que rebaixou remunerações e con‐ cebeu uma concorrência que jamais foi nota‐ da em qualquer outro segmento profissional. Apenas para que o leitor perceba a dificul‐ dade de obtenção de êxito nomercado jurídi‐ co, emuma cidade comoMacapá (commenos de quinhentosmil habitantes) existemseis fa‐ culdades de Direito, que despejam no merca‐ do mais de mil novos graduados anualmente. O desafio dos bacharéis em Ciências Jurí‐ dicas é majorado pela exigência de uma pré‐ via confirmação de seus domínios práticos e teóricos com o exame da OAB. Ora, um jovem recém formado emArquitetura torna‐se ime‐ diatamente um arquiteto, mas um graduado emDireito só terá alguma possibilidade de in‐ gresso no mercado de trabalho após a aprovação na temida prova da Ordem dos Advogados do Brasil. Em verdade o exame de Ordem é ummal necessário, ele repele da profissão quem ainda não assimilou o conheci‐ mento mínimo para exercer suas tarefas sem expor a risco seus clientes. Note amigo leitor que nesta prova o candidato que erra a metade das questões da primeira fase avança pa‐ ra fase subsequente, onde poderá consultar todas as leis exi‐ gidas no certame. Mesmo assim, o número de reprovados no exame da OAB alcança trimestralmente marcas que batem os setenta por cento. Devemos recordar ainda que boa parte dos aprovados já experimentou reprovações em provas anteriores, fato que denota umalarmante quadro na formação de novos profissio‐ nais do universo jurídico. Afinal, se a prova não é tão complexa quanto as lendas que lhe rondam fazem crer, onde está a causa de tantas reprovações? Naturalmente na péssima formação de boa parte dos candidatos e a qua‐ lidade duvidosa de muitos cursos! Desde os tempos da escola algumas pro‐ fissões despertavam conselhos naturais oriundos dos meus professores: diziammeus antigos mestres que a Engenharia seria esco‐ lha acertada para os mais aptos na Matemáti‐ ca. Enfatizavam que os jovens atletas teriam melhor sorte na Educação Física. Por sua vez, o Direito seria palco apenas dos amantes da leitura; aqueles que não possuíam gosto pela literatura deveriam ficar distantes desta op‐ ção no vestibular. Acho que esse tipo de conselho desapare‐ ceu junto com os vestibulares das instituições privadas. Aliás, sem barreiras ou exigências prévias, qualquer interessado pode iniciar um curso de Direito e, se não adquirir o gosto pela leitura nos primeirosmeses de aula, acumulará umenorme número de déficits que serão reve‐ lados e expostos exatamente no exame daOAB. Muitas pessoas buscam o Direito pelo nú‐ mero de opções profissionais que o curso apresenta, afinal, um graduado nesta faculda‐ de pode ser juiz, promotor, procurador, defen‐ sor, tabelião, delegado ou analista. Esquecem os apressados que para todas essas profissões há um concurso público no meio do caminho, para desafiar quantas leis e doutrinas o candidato dominou em cinco anos. Do século XIX até hoje uma coisa nãomudou: a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que foi a primeira do país, ainda é a melhor. E digo isso não por vaidade (não me formei lá), digo por reconhecimento. Aliás, os melhores cursos de Direito do Brasil possuem uma nota em comum: são formalistas e tradicionais. Os alu‐ nos da USP, PUC e Mackenzie são selecionados por criterioso vestibular, testados em exaustão por complexas provas (na‐ da de “trabalhinho” em grupo) e são transformados em lei‐ tores vorazes. Cansei de ouvir que quem faz a faculdade é o aluno e não a instituição e com isso concordo. De todo modo, mesmo sa‐ bendo que uma flor pode crescer no deserto, optaria por plan‐ tá‐la em um ambiente mais adequado: um jardim. ● Procurador doEstado DiegoBonilla Diego Bonilla, Procurador do Estado e articulista da Revista Diário ARTIGO Alunos da USP não ganham computadores no ato da matrícula, ganham a oportunidade de um futuro brilhante! Espero que o exemplo da velha casa de ensino jurídico, tornada imortal nas penas de Reale, Dinamarco, Goffredo e tantos outros grandes mestres, seja seguido por cada uma das mais de mil faculdades de Direito do Brasil. Vida longa às arcadas da velha academia! 11deAgosto: aniversáriodoensino jurídiconoBrasil. Dasarcadasàsruínas

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