Revista Diário - 9ª Edição - Agosto 2015
Revista DIÁRIO - Agosto 2015 - 57 ● Luíza Jucá, hoje (à dir.), e quando era jovem estudante (acima) L uíza conta que os minutos da viagem entre Belém e Macapá transcorreram normalmente, com o avião sendo tomado pela ale‐ gria dos estudantes que retornavam para casa. O procedimento de desci‐ da no aeroporto macapaense foi anunciado pelo piloto, mas quando a aeronave perdia altura, já perto da pista de pouso, foi bruscamente ar‐ remessada para o alto. Os estudantes, que até então achavam que tudo estava normal, tomaram o arremesso do avião co‐ mo algum problema na pista do aeroporto de Macapá, e chega‐ ram até a brincar dizendo que estavam sendo sequestrados para Mazagão. Na época, em pleno regime militar no Brasil, vários sequestros vinham sendo feitos no país com destino a Cuba. O voo começou a se distanciar de Macapá. Foi quando uma das aero‐ moças se posicionou na cabeceira do corredor e disse que iria empurrar a porta do comando do avião, se estivesse fecha‐ da, todos deveriam ad‐ mitir que estavam sendo sequestrados. Luíza, que ocupava poltrona ao lado do hoje professor Paulo Batista Guerra, diante do alerta da aeromoça perce‐ beu que o “jovem bonito”, que viajava na poltrona à frente dela, ainda não retor‐ nara dos fundos do avião, pa‐ ra onde ela vira ele ir, poucos minutos antes. O sequestrador, na verdade, fo‐ ra aos fundos do avião, decerto se preparar para dominar o aparelho, rendendo o piloto e o copiloto. Na volta, passou despercebido por Luí‐ za de Nazaré, em direção à cabine. A Miss Sequestro tomou um susto quando após a fala da aeromoça surgiu da cabine da aeronave o pos‐ sivelmente gaúcho e o piloto. O único desconhecido daquele voo Belém/Macapá, segundo teste‐ munho de Luíza Nazaré Mont’Alver‐ ne Jucá Puget, disse o seguinte a to‐ dos dentro do avião da Cruzeiro do Sul: “Bom dia. Todos vocês estão sa‐ bendo que eu estou sequestrando o avião. Por favor, não reajam porque as autoridades de Caiena já estão avisadas que por qualquer coisa eu explodo não só o avião como todo o aeroporto da cidade. A maioria de vocês é universitária e sabe o que é nitroglicerina. Se existe um mundo a construir, existe um a destruir. Eu tenho o objetivo de chegar em Cuba, e vou chegar. A economia cubana es‐ tá seriamente por baixo, porque a safra de cana de açúcar está em que‐ da, e eu vou pedir 25 mil dólares pa‐ ra o Itamaraty, e entregar esse di‐ nheiro para Fidel Castro. O meu amigo Rangel vai falar”. Rangel era o piloto do aparelho YS11. Aí é que Luíza percebeu que a aeronave sobrevoava uma cidade, deduzindo que se tratava de Caiena. O piloto Rangel falou: “Ele já disse tudo; está sequestrando o avião; é bom que ninguém tumultue. Ele vai dar as coordenadas de como cada um de nós tem de agir”. Então o aparelho da Cruzeiro do Sul aterrissou no aeroporto de Caie‐ na. Após a manobra para o estacio‐ namento do avião, o sequestrador anunciou que na cidade ficariam apenas “as senhoras e senhoritas com acompanhantes”. O restante dos passageiros seria levado para Georgetown. O construtor de estra‐ das Walter do Carmo, um dos passa‐ geiros, conseguiu embrenhar‐se no meio da mulherada, enganando o sequestrador, e desceu em Caiena (nesta edição da Revista Diário há matéria sobre a trajetória da vida de Walter do Carmo). ●
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