Revista Diário - 13ª Edição - Fevereiro 2016
Q uando muda o Calendário, a gente é levado a pensar quando come‐ çou a contagem dos anos. Houve no passado muita especulação de quan‐ tos anos tinha o mundo. O livro do Gênesis, que conta a histó‐ ria da Criação, é um dos mais belos poe‐ mas escritos pelo homem, mas ele não se aventurou a dizer quando Deus resolveu fazer a Terra e o homem para dominá‐la. Disse apenas que o “espírito de Deus se movia sobre as águas”. Hoje nós, cristãos, e o mundo inteiro adotamos o calendário gregoriano, do Papa Gregório XIII, que foi autorizado pe‐ lo Concílio de Trento a alterar o calendá‐ rio antigo. Desde Numa Pompílio, o ca‐ lendário romano tinha um ano de 355 dias alternado com um ano de 377 dias aumentado de um mensis intercalaris. Era função do pontifex maximus acres‐ centar determinar quando era intercala‐ do esse mês. Júlio César, pontífice máxi‐ mo desde 63 a.C., encontrou uma grande confusão no calendário, que estava intei‐ ramente descompassado das estações por negligência dos seus antecessores e substitutos. Assim, em 46 a.C. — o ano 708 AUC (da fundação de Roma) —, ele estabeleceu o calendário juliano de 365 dias com o quarto ano bissexto, medida que aprendera no Egito. Para acertar o passo ele fez esse ano ter 445 dias. Como o ano solar não é de 365 dias e 6 horas, mas de 365 dias, 5 horas, 49 mi‐ nutos e 12 segundos, persistia um erro, que o calendário gregoriano corrigiu eli‐ minando os anos bissextos divisíveis por 100, exceto se forem divisíveis por 400. Complicado, não? Restou uma falha em relação ao ano astrológico, que necessi‐ tará de um dia de correção a cada 3.323 anos. Para acertar os dias que tinham sido acrescentados a mais, a entrada em vigor do calendário gregoriano eliminou 11 dias, pulando de 4 para 15 de outubro de 1582. Era a época da Reforma, e os países protestantes não aceitaram a mudança, e só foram aderindo aos poucos — a Grécia em 1923 — de modo que as datações eu‐ ropeias dos anos seguintes ficaram bas‐ tante confusas. A contagem dos anos no nascimento de Cristo começou a partir de 525. Até lá, no império romano, que dominava a Eu‐ ropa, contava‐se, em geral, a partir da as‐ censão de cada imperador. Ainda outro motivo de confusão era que cada país co‐ meçava o ano numa data diferente: janei‐ ro, março, Páscoa, Natal etc. Podia falar de muitos calendários, ca‐ da povo teve o seu. O maia era complica‐ do e tinha várias contagens. Uma destas, a “longa”, reiniciou em 2012, o que origi‐ nou uma leitura de que o mundo ia aca‐ bar. Essa é uma expectativa que acontece a cada data mais redonda ou por outros pretextos. Em São Bento, até hoje lembro o me‐ do do mundo acabar, quando deram uma data para isso. A cidade inteira ficou em polvorosa esperando o dia. O antídoto era fazer atrás das portas cruzes de car‐ vão. Todas as casas as fizeram. Na data marcada eu não largava minha mãe, agarrado em sua saia, para que acabásse‐ mos juntos. Na véspera eu não dormi. E o mundo não acabou! Acostumei‐me com a notícia de que o mundo vai acabar. Enquanto isso não acontece, vamos saudar 2016, com mui‐ tas esperanças e felicidades ao povo amapaense. E salve o profeta Pituca! ● Revista DIÁRIO - Fevereiro 2016 - 28 Senador daRepública JoséSarney ARTIGO O único a não acreditar foi o sacristão da Igreja de São Bento, Pituca, que era gago, e saía pela rua dizendo: “O Senhor São Bento não vai deixar o mundo acabar. Reze para ele. O mundo só vai acabar quando o sol secar.” Ele foi o antecessor da ciência moderna, que prevê o fim da “sequência principal” do sol para daqui a 5,4 bilhões de anos, quando se converterá numa estrela gigante vermelha, e chegará o fim da Terra. Mas surgirão outros mundos e a Eternidade irá em frente. Ex-presidente do República, senador pelo Amapá, Membro da ABL e da Academia de Ciências de Lisboa;escreve no Diário do Amapá, todos os domingos A eternidade
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