Revista Diário - 13ª Edição - Fevereiro 2016
B íblia, no Antigo Testamento, mostra casos de ho‐ mens iluminados que conseguiram ouvir a Palavra de Deus. Assim foi com Abraão, Moisés, Jacó, Elias e todos os profetas, maiores e menores. No entanto, hou‐ ve tantos e tantos que, ao contrário, não quiseram ouvir Deus, os reis, principalmente, tirando deles Davi, Salo‐ mão e Ezequias, que procuravam a orientação divina, mas mesmo assim chegaram a ser renitentes e, portanto, também passíveis da Justiça do Altíssimo. No Novo Testamento, centenas de milhares de pes‐ soas viram Deus na forma do Filho Jesus, conversaram com Ele. Receberam a mensagem de que Cristo subiria ao Céu, mas que logo depois viria o Espírito Santo. Pro‐ messa cumprida. Hoje, sabemos que Cristo está no Céu, à Direita do Pai, para voltar à Terra a qualquer momento, e que o Espírito Santo está no meio da Humanidade, ou seja, Deus continua entre nós, falando com a gente na for‐ ma da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade e com a própria Palavra escrita na Bíblia. Apesar de toda a bondade de Deus para com o ho‐ mem, Ele, por desígnio próprio, não mais dá a nós vi‐ ventes a distinção de ouvirmos a Sua Voz, mas se mani‐ festa das formas mais imponderáveis possíveis, como chamar para o Seu Lado a menina Raimunda Coutinho, a Dica, rebelde, travessa, violenta, avessa às orações, mas que gostava de estudar. A perda foi a ma‐ neira que Deus usou para atrair Dica. A mãe dela, dona Ana, morreu acometida de hepatite. A menina ti‐ nha apenas 12 anos de idade. Foi um cho‐ que. Com essa perda, passou a não mais brincar nem sorrir. Não falava mais com ninguém. O seu jeito orgulhoso, domina‐ dor, deixou de existir. A garota simplesmen‐ te ficou amofinada. Perdera até o gosto de se enfeitar, de vestir conforme a moda. As brincadeiras e diverti‐ mentos deixaram de ter importância para ela. Com a perda da mãe, Raimunda Coutinho, a Dica, transformou‐se em outra pessoa. Começou a sentir ne‐ cessidade de rezar. A companheira das orações era a sua irmã Cacilda, mais velha que ela e constantemente doen‐ te. As duas manas rezavam horas a fio. Depois, por mui‐ tas horas também, conversavam sobre a bondade, das saudades e da dedicação da mãe que partira. Dica com a família moravam em Santana. O pai João de Azevedo Coutinho, também bastante abatido e abalado com a morte da esposa, não sabia como conduzir a educação dos filhos. Além de Cacilda e Di‐ ca, havia outros sete, ainda pequenos, o menorzinho apenas com nove meses de nascido. As crianças, en‐ tão, passaram a vida na base do ‘Deus dará’, e como Deus deu mesmo bênção àquela família. Contra todas as probabilidades e incertezas, fez de Dica uma Reli‐ giosa, transformou‐a na Irmã Maria Celeste, membro da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria, socialmente chamada de Cordimariana, a pri‐ meira e até agora única denominação religiosa emi‐ nentemente criada no Amapá, pelo notável Padre Júlio Maria que hoje está em processo de canonização no Vaticano. E Dica foi a primeira Religiosa vocacionada desta parte do Brasil, quando o Amapá ainda perten‐ cia ao Pará. ● Religião O silêncio de Deus é talvez omaior mistério do Criador do Céu e da Terra. Mas Ele chama, incrível! Chama em silêncio. Às vezes, até os de coraçãomenos sensível ouvemo silêncio de Deus É que o Criador fala comos seus escolhidos das formas mais diferentes, sem falar. Deus fala por meio de outras pessoas que se incorporamemanjos enviados do Céu; fala por meio de atos e fatos simples ou impactantes da vida; a tragédia é uma forma de Javé falar aos homens; a perda por vezes atua como um santo remédio na comunicação Texto: Douglas Lima Dica, a travessa que virou freira Revista DIÁRIO - Fevereiro 2016 - 60
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