Revista Diário - 13ª Edição - Fevereiro 2016

‘E ra ummenina inquieta, curiosa. Uma garota encanta- dora! Os movimentos graciosos do seu corpo e toda a sua beleza a tornavam, sem dúvida, uma verdadeira manequim. Hoje estaria nas passarelas’. ‘Dica era sadia e robusta. Coração ardente, afetuosa, expansiva, imaginação viva,muito criativa, brincalhona e alegre’. ‘Ela ia crescendo numa liberdade total, no meio de tantas outras meninas igualmente livres, mas cercada de cari- nho, do afeto dos pais, prin- cipalmente de João que ti- nha por ela uma atenção especial’. ‘Quando batia a hora no relógio grande da ca- sa, Dica tomava seus li- vros e chamava a irmã: – Vamos, Cacilda, es- tá na hora de estudar. Quando a irmã não podia ir à escola porque estava doente, dica aproveitava a situação para dizer à irmã: – Você é uma pregui- çosa! Você não quer ir á escola porque está com preguiça. Muitas vezes Cacilda ficava calada,mas quan- do respondia o insulto, Dica se zangava, grita- va... gritava!!! Às vezes, sua raiva chegava a tal ponto que lançava objetos na cabe- ça da irmã’. ‘Na escola, Dica se relacionava bem e ficava sempre ocu- pada nas tarefas do dia. Mas ninguém podia contrariá-la, ficava com a face muito vermelha e... a tempestade desabava’. ‘Não perdia tempo. Parecia até estar sempre necessitando demovimen- to. Brinquedos como bonecas, loucinhas, casinhas, cos- turas, não tinhamatrativos para Dica. Ela sentianecessidade do ar livre, de jogos barulhen- tos, de cantos, de gritos e corridas! Nas brincadeiras, assumia logo a liderança e exercia o papel principal.’ ‘Dica não gostava de orar. Não compreendia a sua impor- tância porque também ainda não descobrira Deus. Quando Cacilda, que era de temperamento calmo e mais dada à oração, convidava a irmã para a oração, Dica resistia chamando-a de beata, hipócrita ou diabo! À noite, quando a mãe a obrigava a recitar o Pai Nosso e a Ave Maria, Dica sempre achava umpretexto para se livrar deste dever!’ ‘Cada diamais travessa, traquinas e cheia de surpre- sas, não deixava ninguémempaz dentro de casa. Os empregados viviam sempre humilhados por ela, e a cada instante estava em conflito ora com um, ora com outro. Insultava a todos com palavrões , batia-lhes comcorreias e depois fugia rindo e zombando deles’. Ana Coutinho deixou seu esposo e seus filhos e foi para junto de Deus! Dica contava 11 anos de idade. Chorava... Sentia o que perdia, perdendo a mãe. A ideia de conviver agora sem a pre- sença materna, fazia a me- nina chorar de verdade. Não eram lágrimas de tristeza, de saudades... Pa- recia o pranto e o gemido do desespero.’ ‘Dica não falavamais comninguém. Oseu jeito orgulhoso, dominador, parecia esmagado sob o golpe repentinodaparti- da da mãe. Começou a sentir necessidade, von- tade de rezar, o que causou grande admiração a todos’. ‘Tendo deixado os estudos e não sabendo como utilizar tanta energia, Dica foi se apaixonando pelos trabalhos domés- ticos. Junto comuma jovemda casa do curandeiro, ia diariamen- te pescar, aprendia a fazer farinha de mandioca e muitas ou- tras atividades próprias da região amazônica. E assim, na bus- ca de experimentar o novo e, imitando os grandes, começou a fumar. Julgava que isso era próprio das meninas inteligentes.’ ‘Quando João visitava os filhos, nunca a encontrava em casa. Muitas vezes a menina foi surpreendida pelo pai,mergulhada na água até à cintura, enquanto pesca- va nos igarapés ou rios. Opai voltava feliz porque percebia que todos gosta- Amenina doSim Revista DIÁRIO - Fevereiro 2016 - 61 Escrito pela irmã Maria Crismanda Saraiva de Oliveira, cordimariana, o livro ‘Amenina do sim’ conta a história de Raimunda, a Dica, ou Irmã Celeste. A obra, na verdade, conta a breve história da menina batizada como Raimunda Coutinho, porque ela tevemorte prematura, aos 17 anos, acometida de hepatite, omal que antes O livro

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