Revista Diário - 13ª Edição - Fevereiro 2016
História embarcação, tomando conta do bar. Pelo impacto emocional que sofreu com o naufrágio, Cláudio teve intensificada a depressão que possuía, foi acometido de epilepsia, mal que o deixou após cirurgia a que foi submetido há oito anos em Goiânia (GO). Mas ainda carrega com ele sequelas emocionais que decerto nunca o deixarão. Quando o barco adernou, ficando de casco pra cima, o menino Cláudio, apelidado de Pinóquio, conseguiu sal‐ var‐se agarrando uma das bordas da estrutura de ma‐ deira. O novo Amapá tinha dois andares. Logo ele subiu para cima do casco, onde já se encontravam várias pes‐ soas, todas desesperadas, chorando, gritando, chaman‐ do pelos nomes de familiares no meio da escuridão, pe‐ dindo a ajuda de Deus. Minutos depois, o cordame do barco/motor começou a boiar. Um rapaz chamado Copa pegou uma delas e na‐ dou para a beira do rio Cajari, puxando‐a. Copa amarrou a corda numa árvore e através dela todas as pessoas que estavam sobre o casco do Novo Amapá conseguiram chegar a salvo em terra firme. Cláudio Lima da Silva conta que o rapaz Copa, na fai‐ xa dos 20 aos 22 anos, depois de amarrar a corda no tronco da árvore, entrou novamente no rio para resgatar os sobreviventes. “O Copa salvou muita gente, mesmo, mas acabou morrendo afogado quando transportava um náufrago que desesperado se agarrou fortemente nele”, descreve Pinóquio. Enquanto Copa e outros sobreviventes mais deste‐ midos procuravam salvar mais gente, Cláudio e o restan‐ te que já estava a salvo ficaram à margem do Cajari, no meio do mato. Por volta de meia noite viram uma em‐ barcação singrando ao largo do rio. Todos gritaram, pe‐ dindo socorro. O chamado foi ouvido pelo comandante da embarcação, de nome Aliança do Amapá, coinciden‐ temente também propriedade de Alexandre Góes. Aquela primeira leva de sobreviventes foi levada no barco Aliança do Amapá para o lugar Aruãs, a poucos minutos de onde o Novo Amapá fora pro fundo. Em Aruãs, os náufragos foram abrigados por uma ribeiri‐ nha que os acolheu oferecendo café e local para dormir. “Aquele descanso foi como um oásis no deserto”, lem‐ bra Cláudio. Depois de certo tempo, Pinóquio engrossou a tripu‐ lação do Aliança do Amapá, junto com a tripulação so‐ brevivente do Novo Amapá, que foi ao local do naufrágio. Aí o Novo Amapá já não estava mais de casco pra cima. O movimento do rio o fizera voltar à posição normal, mas apenas com a proa fora d’água, deixando o camaro‐ te do proprietário à vista. Commachadinha, o camarote foi aberto, lá sendo encontrado Alexandre Góes, morto. O corpo foi levado para Santana, sendo a primeira vítima fatal do naufrágio a chegar no ponto de origem da via‐ gem que não chegara ao fim da linha. Cláudio Lima da Silva, o Pinóquio, não pôde voltar para Santana. Teve que ir para La‐ ranjal do Jari, dar um tempo, por‐ que o povo estava revoltado contra ele, diante dos boatos que corriam, dizendo que o menino que dirigia o Novo Amapá era justamente o fi‐ lho de criação de Alexandre Góes. “Eu não estava no leme do bar‐ co/motor; minha tarefa era aten‐ der os passageiros, no bar; e mes‐ mo essa história de um garoto di‐ rigindo o Novo Amapá não é verda‐ de, era o comandante Alvanir quem estava no leme, na hora do acidente”, lembra Cláudio ainda emocionado depois de 35 anos da tragédia. ● Revista DIÁRIO - Fevereiro 2016 - 8
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