Revista Diário - 13ª Edição - Fevereiro 2016

Revista DIÁRIO - Fevereiro 2016 - 9 U m notório craque do futebol brasi‐ leiro, o meia Gérson, entrou para história tanto por sua participação decisiva na Copa de 1970, quanto por sua atuação na propaganda dos cigarros Vila Rica, de 1976. Em tal anúncio de televisão o ex jogador do Botafogo proferiu uma fra‐ se que o notabilizou negativamente: “O im‐ portante é levar vantagem em tudo”. Tal afirmação foi apelidada desde então de “Lei de Gérson”, sendo reproduzida como síntese de um ideal ou estilo de vida, o tal “jeitinho brasileiro”. De 1976 para cá a Lei de Gérson ga‐ nhou ainda mais espaço na vida política e social do país, tendo revogadas todas as re‐ gras que lhe limitavam, tais como o respei‐ to à família, aosmais velhos, à propriedade privada ou aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Os adeptos da Lei de Gérson usam, sempreencher os requisitos para tanto, vagas destinadas aos deficien‐ tes físicos e idosos nos shoppings e centros comerciais, reputando nisso considerável vantagem. Aqueles que optam por esta re‐ gra furam filas semmaiores cerimônias em estabelecimentos públicos ou privados, mostrando grande desprezo aos que aguardaram de modo sereno e cordial por sua vez. Um legítimo “Gérson” vota emcandidatos que lhe pos‐ sam oferecer algo em troca, seja uma vantagem imediata ou uma promessa de carátermais duradouro, tal como um cargo público sem prévio concurso. A filosofia de vida de umGérson autêntico se expande comnovas gerações, visto que seus valores são transmiti‐ dos em família, gerando jovens ávidos por burlar regras simples emsuas escolas, como notas emavaliações ou tra‐ balhos oriundos de simples plágio da inter‐ net. O jeitinho brasileiro nunca se afastou de nossas participações em grandes com‐ petições do esporte, estava presente na postura de Rivaldo ao simular um pênalti contra a Turquia na Copa de 2002 ou no teatro de Nilton Santos para enganar o ár‐ bitro de Brasil x Espanha no Mundial de 1962. Tal estilo não é exclusividade do fu‐ tebol, marcando tambémo automobilismo, no acidente simulado de Nelsinho Piquet noMundial de Fórmula 1 de 2008 e em tan‐ tos outros episódios suspeitos ou mera‐ mente degradantes. O grande problema do país surge quan‐ do a Lei de Gérson passa a regulamentar governos, já que o líder que reza por esta cartilha adora empregar sua família e amantes em cargos públicos de pouco la‐ bor e muita renda, padecendo de amnésia na aplicação das regras da licitação pública, podendo contemplar empresas de amigos ou aliados. OGérson não investe emsanea‐ mento básico ou estrutura urbana, não lhe agrada a saúde e lhe causa ojeriza a educa‐ ção. Não, nada disso lhe é atraente ou bom! UmGérson usa o poder para perseguir e aniquilar inimigos ou adversários polí‐ ticos, anseia por poder para nele se perpetuar, faz da po‐ lítica uma profissão e usa mais suas prerrogativas de via‐ gens oficiais do que seus deveres legais. Países desen‐ volvidos e até mesmo desprovidos de nossa abundância natural não dão margem para o uso da lei de Gérson; ela é reprimida no seio familiar, tornando a honestidade al‐ go que ultrapassa a boa prática, revelando comporta‐ mento uniforme e desprovido de outra opção conhecida ou válida. ● Procurador doestado DiegoBonilla Em países como o Ja- pão é possível comer- cializar produtos sem atendentes, em ven- das baseadas na cer- teza da honestidade docliente, sãoos cha- mados “mujin han- bai”.Ali, umavarieda- de de produtos é ex- posta sem qualquer fiscalização, o cliente entra, serve-sedoque deseja e deixa empe- quena caixa o valor correspondenteàqui- lo que leva, buscando na mesma caixa seu próprio troco. Por sua vez, noBrasil, aAdmi- nistração Pública usa vasta, ampla e cara estruturadecombate à corrupção, que en- volve MP, Advocacia Pública, Poder Judi- ciário, CGU, TC, PFe atémesmoportaisde transparência. Diego Bonilla, Procurador do Estado e articulista da Revista Diário Anorma maisodiada e aplicada doBrasil: ALei de Gérson ARTIGO

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