Revista Diário - 14ª Edição - Março 2016
H isteria coletiva! É como pode ser resu‐ mida a condição em que a população brasileira e, principalmente do Estado de Pernambuco, foi lançada diante à avalan‐ che dos casos de microcefalia (má formação do cérebro que pode prejudicar o desenvol‐ vimento da criança) nos últimos meses. E não seria para menos: até o dia 13 de fevereiro, 1546 casos de microcefalia foram notificados em Pernambuco, um número as‐ sustador para uma condição tão grave. Po‐ rém,toda calma nessa hora se faz necessária. Do total de casos notificados, apenas 184 ti‐ veram o diagnóstico da mal formação confir‐ mados. E se o número preciso de bebês com microcefalia é incerto, a relação destes casos com o vírus zika parece ser ainda mais ne‐ bulosa a cada semana que passa. O vírus zika não é novo. Foi descoberto em 1947 e, desde então, recebe descrições sobre suas manifestações clínicas. Até então, não havia nenhuma descrição sobre a asso‐ ciação do vírus com microcefalia. Mesmo al‐ gumas epidemias na África e na Polinésianão observaram esta associação. Mais recente‐ mente, foram confirmados 40 casos de ges‐ tantes com infecção por zika em Honduras e mais de 6.300 na Colômbia, sem que isso te‐ nha implicado no surgimento de recém nas‐ cidos com microcefalia. Dados expressivos a favor da associação “zika x microcefalia” vêm de pesquisas da Fiocruz que encontraramo vírus no liquido amniótico de duas mães de bebês com mi‐ crocefalia e de anticorpos IgM no líquido cefalorraquidiano de 34 recém nascidos com microcefalia (de um total de 38 pes‐ quisados). Mas afinal, o que há de comprovação? No momento, quase nada! Para se ter a real res‐ posta, seria necessário, no mínimo, a reali‐ zação de um estudo chamado de caso‐con‐ trole, ou seja, onde você compara os dados de quem teve microcefalia (casos) e de crian‐ ças nascidas na mesma época que não a te‐ nham (o controle). Este tipo de estudo vai permitir que seu calcule quais os fatores de risco para microcefalia e, a partir daí, ver se, realmente, as mães foram expostas ao vírus ou a outros fatores. Perguntas sem respostas não param de chegar: afinal, qual a chance de a criança de‐ senvolver microcefalia frente uma infecção por zika? Qual o período de maior risco? Qual a fisiopatologia? Existe algum outro fa‐ tor de risco associado? O momento é de total alerta! E todo cui‐ dado com a proliferação do vírus zika se faz necessário, haja vista que são os mesmos cuidados na transmissão do vírus da dengue, que já nos dá dor de cabeça de sobra. E, en‐ quanto as pesquisas não trazem respostas, o trabalho diário deve continuar: evitar água parada e manter o uso de repelentes. ● Dr. AlessandroNunes As pontassoltas naassociação entre ovíruszika eos casosde microcefalia ViverBem Doutor Alessandro Nunes, Médico professor da Unifap, especializado em Clínica Médica pela Unifesp, e Geriatria, pela USP. Revista DIÁRIO -Março 2016 - 16
RkJQdWJsaXNoZXIy NDAzNzc=