Revista Diário - 14ª Edição - Março 2016
Personalidade Revista DIÁRIO -Março 2016 - 44 U ma legenda da tradição macapaense, que já é no‐ me de museu, vai virar personalidade de livro. Trata‐se de Raimundo dos Santos Souza, nascido em 21 de agosto de 1926, com desenlace em 1999, am‐ bos os momentos em Macapá. Sacaca, como Raimundo dos Santos Souza era ape‐ lidado, foi um profundo conhecedor da floresta, sabe‐ doria essa adquirida na infância, quando teve contatos e passou a trabalhar como auxiliar de pesquisadores estrangeiros no tempo em que o Amapá ainda perten‐ cia ao estado do Pará. Raimundo intensificava o seu contato com o mato indo com o pai tirar madeira. Ao lado de ‘seu’ Maximia‐ no e de pesquisadores, o ainda menino teve os primei‐ ros contatos com as plantas. Inteligente, curioso e in‐ teressado em aprender tudo o que fosse possível sobre as árvores, gramíneas e trepadeiras, logo se tornou amigo íntimo da natureza florestal. Quando começou a partilhar os seus conhecimen‐ tos empíricos, primeiramente no bairro, e depois na ci‐ dade inteira, logo o ‘preto’ do Laguinho recebeu o epí‐ teto de Sacaca, famoso emblema que levou para o tú‐ mulo. Sacaca, no regionalismo amazônico, significa ação ou prática de bruxo, e no conhecimento botânico, planta da família das Euforbiáceas com propriedades medicinais. O chá das folhas da sacaca, casca e raízes é indicado no tratamento de anemias, colesterol alto, diabetes, ic‐ terícia, malária e dor estomacal. Os princípios ativos da planta são: cadineno, cânfora , linalol, sabineno, es‐ tragol, etc.. Não deve ser usada por gestantes e crian‐ ças. Se consumida em excesso, pode causar intoxica‐ ção, provocando hepatite aguda e até a morte. Preocupado em pesquisas pessoais para utilização de plantas na cura de enfermidades, Raimundo Souza achou de levar um pé de epadu para plantar no quintal de sua casa, em 1986. No dia 29 de dezembro daquele ano ele foi surpreendido com a presença da Polícia Fe‐ deral em seu encalço, no endereço. No quintal da residência do naturalista Raimundo Sacaca os PFs encontraram um pé de epadu com cerca de 60 cm de altura, plantado numa lata de querosene. No inquérito aberto pela Polícia Federal constou que Sacaca fora preso por tráfico de drogas, sendo com ele encontrado mais de dez pés de epadu. No arranjo para incriminar o negro, os galhos do único epadu foram contados como se separadamente fossem plantas. Hoje, José Raimundo da Silva Souza, o ‘Dô’, o sétimo filho de uma prole de 14 oriunda de Sacaca e dona Ma‐ dalena, revela que o pai dele foi vítima de alguém inte‐ Naturalista Raimundo dos Santos Souza, o Sacaca, chegou ao desenlace, mas continua vivo, no Banco daAmizade, na esquina daAzevedo Costa, nos carnavais e principalmente na medicina e no coração de quemele curou. Texto: Douglas Lima - Fotos: Arquivo da família Sacaca, um profundo conhecedor dafloresta
RkJQdWJsaXNoZXIy NDAzNzc=