Revista Diário - 14ª Edição - Março 2016

ressado em incriminá‐lo. José Raimundo lembra que na época o bairro do Laguinho era apinhado de epadus, in‐ clusive com uma árvore da planta ostensivamente na frente de uma casa na avenida Ernestino Borges perto do cruzamento com a rua General Rondon. Dô escreve um livro sobre o pai. Ele antecipa que o caso da prisão de Sacaca será devidamente esclarecido na obra. Outro filho do naturalista, o radialista Armis‐ trong, entende que o genitor foi preso porque era negro e pobre. Seja qual tenha sido o motivo da reclusão de Sacaca pela Polícia Federal, o certo é que o fato gerou consternação no povo ampaense. Grandes manifesta‐ ções foram feitas em frente à sede da PF e na rua Gene‐ ral Rondon, tendo o famoso Banco da Amizade como re‐ ferência. A artéria foi interditada por várias horas por um multidão querendo a soltura do mestre Sacaca. Raimundo dos Santos Souza, na verdade, ficou pou‐ cas horas na Polícia Federal. Nem chegou a ir para o xa‐ drez, porque se sentiu mal e teve que ser hospitalizado. Internado, passou três dias, e do hospital foi direto para casa, onde calorosa recepção pela família, amigos e gen‐ te da população em geral lhe acolheu. A prisão de Sacaca, num dizer bem comum, mexeu com todo mundo. José Sarney, então Presidente da Re‐ pública, quando ainda nem imaginava vir a ser senador pelo Amapá, e Paulo Brossard, na época ministro da jus‐ tiça, manifestaram‐se sobre o caso, recomendando a soltura de Raimundo por se tratar de um homem “reco‐ nhecido mundialmente’. A experiência com as plantas não dava a Raimundo dos Santos Souza a garantia necessária para o sustento da família. Por isso, ele tinha que trabalhar, ser empre‐ gado. No período da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, ele trabalhou na Panair do Brasil. Depois in‐ gressou na Prefeitura Municipal de Macapá, como fiscal de obras. No governo militar brasileiro, foi colocado à dispo‐ sição do Campus Avançado no Projeto Rondon, passan‐ do seus conhecimentos sobre a flora e a utilização de árvores e plantas para os engenheiros florestais do pro‐ jeto. Em razão da grande contribuição aos rondonistas, o naturalista foi convidado pessoalmente convidado pe‐ lo reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro para participar do 39º Congresso da Sociedade Botânica do Brasil, em Belém do Pará. Sacaca foi também fiscal de terras da Prefeitura de Macapá, jardineiro e carpinteiro. Chegou a trabalhar na Secretaria de Agricultura, Pesca e Floresta e do Abaste‐ cimento. Nessa ocasião, foi solicitado para ir à comuni‐ dade Igarapé Grande, na Ilha do Curuá, para instruir no Revista DIÁRIO -Março 2016 - 45

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