Revista Diário - 14ª Edição - Março 2016

C heguei há alguns dias de viagem e estou es‐ crevendo a coluna ainda sentindo os aromas de lenha em brasa, que perfumam o centro histórico de Montevidéu. Se todos os caminhos le‐ vamà Roma, como diz o velho ditado, no Uruguai, a enogastronomia nos leva à parrillada. Nos dez dias em que estive no país vizinho, não resisti (e nem tentei) ao incenso hipnótico das grelhas eme delei‐ tei em muitas casas especializadas que lá existem. E para acompanhar, claro, sempre escolhia o vinho feito coma uva que é símbolo da República Oriental do Uruguai, motivo de orgulho nacional, a Tannat. Segundo contam os uruguaios, as primeiras parreiras de Tannat foram trazidas do Pays Bas‐ que francês, pelo imigrante Don Pascual Harriage, por volta de 1870. Se nessa época os bascos já uti‐ lizavam, na Europa, a cepa para produzir vinhos de qualidade (especialmente nas denominações de Madiran e Irouléguy), foram necessários cem anos para que os uruguaios conseguissem domá‐ la e iniciar a produção de vinhos finos com quali‐ dade voltada para o mercado internacional. Antes disso, a produção era toda de vinhos de garrafão, de menor qualidade. Umdos grandes responsáveis por esse impulso comercial foi Juan Carrau, a partir de um projeto desenvolvido em 1976, chamado de “Vinhos Finos Juan Carrau”. Margarita Carrau, filha de Juan e uma das gestoras das Bodegas Carrau (como é atual‐ mente chamada), contou‐me que o projeto foi de‐ sencorajado por muitos produtores, pois não acre‐ ditavam que os vinhos uruguaios pudessem com‐ petir com os internacionais. No entanto, contra‐ riando as expectativas, o projeto deu certo e origi‐ nou uma das maiores vinícolas do país. Hoje, os vi‐ nhos da Carrau são premiados e exportados para a Europa, EUA e América Latina. Tive o prazer de conhecerMargarida e essa his‐ tória na visita que fiz a uma das bodegas da família, no distrito de Colón, departamento de Canelones, a 20 minutos de carro de Montevidéu. Fiz uma in‐ teressante degustação dos vinhos da Carrau e ates‐ tei a qualidade e o nível internacional do que é pro‐ duzido. Destaco o vinho AMAT 2009 (a safra de 2002 está no livro “1001 Vinhos para Beber Antes deMorrer”) e dois brancosmaravilhosos para nos‐ so clima e nossos pescados, um feito comum casa‐ mento inusitado de castas brancas (Petit Manseng e Sauvignon Gris), o 1752 Gran Tradicion 2010, o outromais leve comamadurecimento junto comas leveduras (sur lie) Juan Carrau Sauvignon Blanc 2015, todos disponíveis no mercado brasileiro. ● Opequeno grande país daTannat Revista DIÁRIO -Março 2016 - 78 Vinhos JoséBogéa Dr. JoséBogéa, advogado e enófilo - ntbog@uol.com.br ● Vinhos da antiguaStagnari ● Salade degustaçãoPisano

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