Revista Diário - 14ª Edição - Março 2016

A Carrau produz 1,2milhão de litros de vinho por ano, portanto é uma potência considerando os padrões dopequenopaís, que temcerca de 3,5milhões de ha‐ bitantes (o estadodeAlagoas tem3,3milhões dehabitantes, só para você ter uma noção). No entanto, a maioria das vi‐ nícolas épequena, familiar edeprodução limitada. Oreflexo disso é umamiscelânea de estilos de vinhos e independên‐ cia de pensamento e técnicas. Umexemplo disso é outra vinícola que visitei emCane‐ lones, região que concentra a maior produção de uvas do país, a Bodega Pizzorno. A história de imigração da família se confunde com a própria história da Tannat, pois chegou e plantou a sua semente na primeira década do século XX. Quando cheguei ao local, fui recebido por Francisco e seu pai, Carlos Pizzorno. Da boutique toda de vidro, de di‐ mensões modestas, é possível ver onde começa e termina os vinhedos da família. Carlos Pizzorno é um apaixonado pelo que faz. Orgu‐ lhoso, me apresentou os vinhos sempre com uma histó‐ ria familiar associada. A linha Don Próspero, por exem‐ plo, homenageia o seu pai. Don José Próspero era italiano e veio para o novo mundo embusca de melhores condições de vida. No Uru‐ guai, encontrou um pedaço de terra e iniciou o trabalho árduo e minucioso. As parreiras da Pizzorno são fruto de sonho italiano. E o que era onírico se tornou real e, atual‐ mente, vem sendo reconhecido e respeitado no mundo vinícola internacional. Carlos aprendeu com o pai como cuidar daquelas ter‐ ras e o que extrair de melhor delas. Enfatizou‐me que quer seus vinhos com caráter intenso de fruta, pois acre‐ dita que essa é a melhor expressão do que é possível pro‐ duzir na Cisplatina. Compreendi osmotivos de PatricioTapia, autor doGuia Descorchados de Vinhos, que apresenta os melhores rótu‐ los produzidos no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Tapia, reconhecido amante dos vinhos frutados, tempontuado os Pizzorno comnotas elevadas. O destaque fica para o Primo Pizzorno 2008, com94 pts, e o Reserva Tannat 2011, que tem90 pts. Vinhos que provei e reitero a pontuação. Poucos quilômetros separam a Pizzorno de outra viní‐ cola com nome italiano, a Bodega Pisano. Assim que che‐ guei, fui conduzido a uma sala de degustação comuma rús‐ tica mesa de madeira. O enólogo Gustavo Pisano, com quem conversei por quase três horas, me disse que a mãe dele ainda mora na vinícola e aquela era a cozinha da casa, adaptada para todo tipo de situação, inclusive para reuniões da empresa. Traduçãodo turismo enológico ainda pueril noUruguai, pois, nãomais quemeia dúzia de empresas realizamvisitas guiadas e possuemestrutura de restaurante apta a receber regularmente turistas (Bodegas Juanicó e Bouza são as principais exceções). Oalto investimentonecessário, segun‐ do Gustavo, é um empecilho. Alémdisso, o foco do negócio é a qualidade do produto. E que vinhos produz a Pisano! A pouca estrutura não compromete em nada a produção da bodega. Provei o ex‐ celente Arretxea 2009, que já conseguiumais de 18 pontos da escritora inglesa Jancis Robinson, e o RPF Tannat 2011, ambos possuem notas herbáceas e de figo, boa estrutura e sãomuito gastronômicos. ● ● Carlos Pizzorno ● Cave da bodega Carrau, em Colon ● ComGustavoPisano Revista DIÁRIO -Março 2016 - 79

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