Revista Diário - 15ª Edição - Abril 2016
É de Rubem Braga o comentário de que "se o cachorro é o maior amigo do homem, o uísque é cachorro en‐ garrafado". Tenho um certo receio de cachorro e um trauma de infância. Não era um ca‐ chorro desconhecido, mas uma cachorra que eu criava e pela qual tinha um gran‐ de afeto: Fly. Pois bem, parida, eu me atrevi a acariciar um dos seus filhotes e quase perdi a oportunidade de exercer a Presidência, quando ela investiu nos meus braços e rosto, obrigou meu tio a praticar atos de heroísmo, atracando‐se com ela, meu corpo sangrando e minha mãe, em desespero, levando‐me para o Pronto Socorro, e tudo o mais que vio‐ lentas mordidas de cães provocam, in‐ clusive com direito a vacina anti‐rábica, tomada na barriga. Desde esse tempo adotei precauções com a cega fidelidade dos cachorros. Não que os tenha afastado domeu convívio e da minha ternura, mas aprendi a não brincar com seus sentimentos. Admiro os que têm paixão por eles. Minhas netas desenvolve‐ ram uma intimidade e uma convivência que me deixam pasmo. Para manter vivo meu temor, dentro de nossa casa perambulam nas salas, durante o dia, os poodles e, no quintal, à noite, vigiando o nosso sono, pastores alemães de guarda. Foi uma festa o nascimento de três filhotes de Fifi e Bast, favoritos das meninas. Foram cuidados especiais e dobradas recomendações às netas: cuidado com Fifi parida. Mas, ao contrário da minha Fly agressiva, Fifi era só delicadeza, exibindo suas tetas, em exótica pos‐ tura, para os filhos mamarem, apresen‐ tando‐os a todos que a visitavam, toman‐ do somente a precaução de afastar, quan‐ do dela se aproximava, o pai dos reben‐ tos, mantido à distância. Ela tinha, nin‐ guém sabe, seus motivos. Fiquei comovido certa vez quando vi o dr. Armínio Fraga chegar de Nova York com a família, para assumir as suas altas responsabilidades de czar da economia, trazendo o seu cão de estimação e, no aeroporto, largar todo mundo e abrir cal‐ mamente a caixa em que o mesmo viajara e o cumular de atenções e afetos. Veja que cena para meditar: o presidente do Banco Central de joelhos diante do seu cachorro. Muitos, ao verem a foto, pensavam que se tratava de um animal especial para ser sol‐ to na Comissão de Economia que o sabati‐ naria no Senado Federal, quando foi muito machucado e indelicadamente tratado. Se fosse um pit bull e ele o levasse para mos‐ trar aos senadores na sua sabatina, todos se comportariam civilizadamente. Agora, quando vejo os pit bulls de den‐ tes arreganhados se estraçalhando uns aos outros nas rinhas, fico revoltado e não posso admitir que aquilo seja diversão de gente, e sim do diabo. Jânio Quadros, por muito menos, proibiu briga de galo, o que todos aprovamos, e moças usarem biquínis nas praias, o que muitos discordaram. Não há dúvida de que o cachorro é amigo do homem, mas o pit bull parece inimigo e concorrente. Por isso é que Madeleine Albright, ministra nos Es‐ tados Unidos, mandou soltar os cachorros em Kosovo, em cima de Milosevic. ● Revista DIÁRIO - Abril 2016 - 28 Senador daRepública JoséSarney ARTIGO Eu considero grandes heróis, exemplo de bravura e coragem, aqueles rapazes que enfrentam nas passeatas de protesto os cães adestrados que os policiais lhes soltam em cima. Ulysses, que não era jovem, e Suplicy, também, enfrentaram essas feras. Ex-presidente do República, senador pelo Amapá, Membro da ABL e da Academia de Ciências de Lisboa;escreve no Diário do Amapá, todos os domingos Divagações sobre o PITBULL
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