Revista Diário - 15ª Edição - Abril 2016

A inda que a prática não fosse novidade nos maiores países produtores da Europa, os elogios de Parker ao vinho de Jean Lucchamaram a atenção do mercado. Aomesmo tempo emque o seu termo ganhava dimensão e notoriedade, passou a refletir uma outra realidade: o cres‐ cente surgimento de produtores que utilizampoucos recur‐ sos para uma produção pequena e artesanal, usando,emre‐ gra geral, umespaço de pequenas proporções (muitas vezes doméstico) e, omais importante, não seguindo regras esta‐ belecidas de padronização regional ou mercadológica. Com a valorização desses vinhos ricos em diversida‐ de, considerados exclusivos, que valorizam as caracte‐ rísticas locais sem a tediosa uniformidade, houve uma expansão dessa filosofia de produção para outros países, inclusive o Brasil. Aproveitei uma viagem de fim de ano para visitaral‐ gumas pequenas produções nos arredores de Bento Gonçalves e Garibaldi, no Rio Grande do Sul. Por tudo que já havia provado, fui cheio de boas expectativas, e não podia deixar de elencar como primeira parada a mi‐ cro vinícola de Vilmar Bettú. Curiosamente, ainda que Bettúseja desconhecido pela grande maioria dos enófilos brasileiros, é considerado uma lenda naquelas redondezas. Consegui um agenda‐ mento com ele e visitei a sua “garagem”. Isso mesmo, tudo que Bettú produz, literalmente,é no quintal de sua resi‐ dência, nas cercanias de Garibaldi. Enquanto batíamos um divertido papo, eu ia provando os seus vinhos, alguns diferentes e nada corriqueiros (como osbrancos feitos com a uva PeverellaeGarganega), outros nem tanto, como Revista DIÁRIO - Abril 2016 - 40 A originalidade dos vinhos de boutique brasileiros Vinhos JoséBogéa Dr. JoséBogéa, advogado e enófilo - ntbog@uol.com.br O conceito de “vin de boutique” ou “vin de garage” surgiu no início da década de 90, na França, quando o conceituado crítico de vinhos Robert Parker provou o improvável ChâteauValandraud,feito por Jean Luc Thunevin, emSaint-Émilion, região de Bordeaux. Ele ficou encantado comaquele vinho que seguia um padrão diferente dos seus pares bordaleses. O vinho era produzido na garagem da residência de Thunevin, eramapenas 1,5mil garrafas, combarricas novas e todo o cuidado dos grandes vinhos franceses.

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