Revista Diário - 15ª Edição - Abril 2016
um corte bordalês (Cabernet Sauvignon e Merlot) e um varietal de Nebbiolo. Todos muito bons! De lá, segui para Pinto Bandeira para encontrar outra vinhateira que vem ganhando destaque no cenário na‐ cional. Marina Santos é enóloga e proprietária da Vinha Unna, e vem fazendo um belo trabalho relacionado aos vinhos naturais. Seus vinhedos são orgânicos com a uti‐ lização de práticas sustentáveis e sua produção não ul‐ trapassa 2 mil garrafas. Ela me falou que está em fase de organização uma cooperativa que vai envolver aproxi‐ madamente 20 produtores orgânicos, com o objetivo de fortalecer a produção e a divulgação dos vinhos do “Ter‐ roir de Chuva” (nome alusivo ao elevado índice pluviô‐ metro da região). Provei seus vinhos no Champenoise‐ Bistrot, restaurante que ela mantém com o marido e chef de cozinha, Israel Santos. Destaco o seu Cabernet Franc “As Bacantes”, assim como os vinhos da Casa Ágo‐ ra, em que Marina é tão somente enóloga. Por fim, não poderia deixar de destacar os espuman‐ tes da Cave Geisse e os vinhos da família Angheben. Ain‐ da que tenham uma estrutura maior que os produtores citados anteriormente, possuem uma produção em pe‐ quena escala e com ótima qualidade. O Cave GeisseTer‐ roirNature, por exemplo, é o único produto nacional no livro “1000 Vinhos Para Beber Antes de Morrer”, com muita estrutura e corpo, não perde em nada para os champanhes.Já da linha da vinícola Angheben, cheguei a profetizar para o enólogo e proprietário Francisco Ang‐ heben(com quem conversei por quase uma manhã intei‐ ra) que o seu Toroldego 2015 estaria, em um curto espa‐ ço de tempo, entre os melhores nacionais. Oswald de Andrade,com seu Manifesto da Poesia Pau‐ Brasil (1924),desejou que o Brasil passasse a ser uma cul‐ tura de exportação (tal qual a árvore Pau‐Brasil), mediante um fazer poético original e espontâneo, livre das regras até então existentes. Esse documento auxiliou a consolidar o modernismo literário no Brasil, subvertendo os parâme‐ tros que definiam o que era bom na época. Se fazer vinho tambémé uma arte, que tomemos a lição consolidada na insistência do famoso e combativo escritor modernista, de maneira a se afastar da tentativa (e erro) de querer copiar o estilo de outras regiões famosas (como as francesas ou italianas), dando lugar àautenticidade e ex‐ pressividade do vinho, respeitando as características da uva, solo e clima do lugar. Não há caminhomais alvissarei‐ ro, senão fugir dessa odiosa padronização e falta de since‐ ridade impostas pela ditadura das pontuações dos críticos. Um salve aos poetas do vinho do Brasil! ● Revista DIÁRIO - Abril 2016 - 41
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