Revista Diário - 15ª Edição - Abril 2016
tóricos da educação amapaense. Foi como austero e letra‐ do governador militar Ivanhoé Gonçalves. Os dois não se cheiravam bem. O professor, porque combatia o governo ditatorial, e o governador, porque no então território fe‐ deral representava o regime. Numa bela aula na Escola Tiradentes, o professor Pau‐ lo ensinava língua e literatura francesas. Lá pelas tantas, silenciosamente entra pela porta dos fundos da sala nin‐ guémmais nemmenos que o general de exército Ivanhoé Gonçalves, Sua Excelência o Governador do Território Fe‐ deral do Amapá. Paulo Guerra logo percebeu a presença do intru‐ so na sala. Não se alterou. Procurou ser ainda mais competente e perspicaz no que ensinava. Ivanhoé ficou uns cinco minutos assistindo à aula, quando a campainha tocou. Os alunos cumprimentaram o governador, surpre‐ sos com a ilustre presença. Sala esvaziada. Eis que os dois se en‐ frentam cara a cara! A aproximação foi feita por Ivanhoé. Foi logo pergun‐ tando o por quê de Paulo Guerra ter se formado emBelém, voltado para Macapá, e não o procurado em palácio. Oprofessor disse ao governa‐ dor que não tivera motivos para o procurar, uma vez que eram patentes as diferenças políticas entre os dois. Mas Ivanhoé já estava envolvido pelo saber de Guerra, relevou aquela impertinência ou sinceridade, e o convidou a ir ao Palácio do Setentrião, para conversarem. Emumoutro dia Paulo Guerra foi ao palácio, para aten‐ der ao convite do governador Ivanhoé Gonçalves. Naquele encontro, tudo o que fizera ou poderia cortar uma relação cortês entre os dois, foi desmontado. O professor saiu do gabinete governamental nomeado diretor do famoso Co‐ légio Amapaense. Paulo Fernando Batista Guerra sempre foi brilhante, nunca deixou de se destacar por onde passava. No seu tempo de estudante universitário por várias vezes deu au‐ las, como professor, mesmo, aos seus colegas de estudo, quando um dos mestres faltava. Ele ensinava os colegas universitários, sobre qualquer disciplina, só dependendo do professor que faltasse para dar aula. Aquela desavença como governador militar Ivanhoé Gonçalves na verdade não se originara apenas por ques‐ tões políticas. Teve a ver tambémcomdeterminada ida de estudantes professores amapaenses ao gabinete governa‐ mental, reivindicar pagamento de salários atrasados. Iva‐ nhoé só recebia gente de terno e gravata. Paulo foi semes‐ sa indumentária. A desavença ainda teve a ver com carta que Paulo es‐ crevera ao governador e à direção da Educação do então território federal, informando que havia concluído a uni‐ versidade e que estava à disposição para servir a sua terra natal. Copioso silêncio fora a resposta. Mas a vitória sempre está presente na vida de Paulo Fernando Batista Guerra. Apesar de todos os pesares, te‐ ve uma trajetória invejável na educação, coroando‐a com a ocupação do cargo de reitor da Universidade Federal do Amapá. Em 4 de julho de 1970, cinco dias antes do ca‐ samento com a sua amada Marieta, às 7h, Paulo e um grande grupo de estudantes levantaram voo do Aeroporto de Val de Cães, de Belém do Pará, num avião da Vasp, para passar férias em Macapá. Quando o piloto da aero‐ nave já havia anunciado todos os pro‐ cedimentos de descida no aeroporto da capital amapaense, e o avião se aproximava do solo, eis que é arre‐ messado para o alto. O arremesso da aeronave fez Paulo Guerra dizer uma brinca‐ deira que depois se tornou coisa séria. Que coisa! Revista DIÁRIO - Abril 2016 - 45
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