Revista Diário - 15ª Edição - Abril 2016
Revista DIÁRIO - Abril 2016 - 66 D ias atrás fui surpreendido com comentários oriundos de um estudante que defendia na im‐ prensa local o governodoPartidodos Trabalhadores. Dizia o rapaz que to‐ das asmanifestações populares defla‐ gradas em nosso país no pretérito mês de março eram “responsabilida‐ de da TV Globo” (sic) e oriundas do povopaulista, que ele afirmou ser gol‐ pista desde 1932. Aquelas afirmações tão absurdas e historicamente incoerentes mexe‐ ram com minha alma cívica e, é cla‐ ro, commeu sangue bandeirante. No momento que você, querido leitor, depara‐se com esse texto é possível que o governo Dilma já tenha sido superado por umprocesso constitu‐ cional de “impeachment”, mas a ver‐ dade histórica e o combate à xeno‐ fobia parecem merecer essas mal tracejadas linhas... Nunca é demais esclarecer que to‐ do líder populista busca a criação de um inimigo comum, segrega seus go‐ vernados entre bons emaus e conce‐ be ser o paladino da justiça, enviado comomessias para romper a sagados mais fracos. Na América latina todos os presidentes membros do Foro de São Paulo elegeram seus inimigos imaginários e, como o Quixote, com‐ bateram seus próprios moinhos de vento. Omais interessante nesta tese ultrapassada é que se pode imputar ao inimigo imaginário sua fraqueza, seus erros e responsabilizar o opo‐ nente por toda e qualquer desgraça (inclusive a corrupção). NaArgentina os inimigos da famí‐ liaKirchner eramos “fundos abutres”, com o argumento de que os Bancos que emprestaramdinheiro ao gover‐ no eram culpados da crise (algomais simples do que informar onde está o dinheiro emprestado). NaVenezuela o inimigodeNicolás Maduro é o “imperialismo america‐ no”. O herdeiro do “Chavismo” reputa que toda escassez de produtos e a in‐ flação fazem parte de uma grande conspiração arquitetada nos Estados Unidos para destruir o pobre país su‐ lamericano. Quiçá seja mais fácil cul‐ par Obama do que simplesmente ad‐ mitir a ruína da indústria nacional causada por sucessivos erros na dire‐ triz econômica do país. No Brasil o inimigo eleito pelo go‐ verno (ou ex‐governodoPT) é aRede Globo. Supostamente todos aqueles que são contrários à corrupção o fa‐ zem por mera indução da TV das no‐ velas. Ora, todo veículo de imprensa possui sua linha editorial, não sepode negar àBBCde Londres o carátermo‐ narquista de suas pautas ou ao perió‐ dico argentino “LaNacion” a evidente predileção pelo livre mercado. Os argumentos de que a TVGlobo apoiou a eleição de Collor em 1989 restamruborizados diantedo eviden‐ te apoio do ex‐presidente à Dilma Roussef, aliás, devidamente acompa‐ nhado por Maluf, histórico defensor do governomilitar em1964. Em verdade a Rede Globo apenas noticia, entre uma novelinha e outra, entre umjogomornodoCampeonato Carioca e outro, os acontecimentos nacionais, sendo evidente que qual‐ quer tom usado por seus jornalistas não apaga uma condução coercitiva de umex‐presidente, a prisãodo líder do governo no Senado ou seis mi‐ lhões de manifestantes nas ruas! Outra tesepreocupantedos popu‐ listas começa a lançar umsentimento de divisão nacional, procurando atri‐ buir aos paulistas a pecha de golpis‐ tas, em razão da revolta deflagrada em1932, mas vamos aos fatos: Em 1930 o Presidente eleito do Brasil, Julio Prestes, foi impedido de tomar posse por um golpe liderado por membros do exército brasileiro capitaneados pelo gaúcho Getúlio Vargas. O povo paulista, então enfu‐ recido por uma grave crise econômi‐ ca e ausência de democracia, foi às ruas para pedir eleições diretas para o Governo do Estado e uma nova Constituição. Os protestos foramviolentamen‐ te reprimidos pelas forças nacionais que, em 23 de maio de 1932 mata‐ ram quatro estudantes paulistanos: Martins, Miragaia, Dráusio e Camar‐ go. Os jovens mortos por militares encheramo povo bandeirante de co‐ DiegoBonilla Diego Bonilla, Procurador do Estado e articulista da Revista Diário ARTIGO Entre crises, ahistóriaeuma revolução Procurador doestado
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