Revista Diário - 15ª Edição - Abril 2016

Revista DIÁRIO - Abril 2016 - 76 Cultura N uma das jornadas, o esposo não voltou na hora de costume, e assim foi com o anoitecer e na manhã seguinte. Sentindo a perda do amado, a índia se desesperou e derramou seu pranto caudaloso no mesmo lugar por vários dias até que a dor e a sau‐ dade a consumiram, levando‐a até à morte. Como passar do tempo, exatamente no lugar onde ela morreu, surgiu a Pedra do Guindaste. Outra lenda criada pelo imaginário popular diz que no ponto do rio onde está fincada a pedra vive uma cobra gigante que na maré de reponta ‐ nem cheia e nem vazante – sai do esconderijo em busca de água, e seu desloca‐ mento faz com que a água não cubra a pedra. Assim, segundo a crendice que compõe o folclore local, se a pedra for retirada do ponto onde se encontra a cobra nãomais sairia e as águas do Amazonas trans‐ bordariam, levando Macapá a pique. Quando ocorreu a colisão do barco com a pedra original, nos primórdios do trapiche, a lenda caiu por terra (ou naufragou nas águas barrentas) e um pilar foi construído para servir de alicerce para a imagem do Santo Padroeiro. Com o passar do tempo o con‐ teúdo místico e lendário vai perdendo terreno para a modernidade tecnológica que transforma num rit‐ mo cada vez mais veloz a arquitetura urbana da ca‐ pital do estado. A Pedra do Guindaste compõe a paisagem ensola‐ rada e quente do verão e a tela bucólica de sua interes‐ sante enseada durante o inverno, servindo de compa‐ nhia para marinheiros e de inspiração para poetas, se‐ res notívagos, andarilhos noturnos, meretrizes atempo‐ rais e demais transeuntes que cruzamsua rota emterra firme ou nas águas barrentas do colossal riomar. A cultura da cidade enriqueceu coma contribuição de músicos e compositores que não hesitam em ela‐ borar suas obras tendo como fonte de inspiração ama‐ jestosa pedra, resultando emnumerosas obras que se consagraramatravés de versos emelodias carregados de poesia e lirismo, tornando‐se clássicos do cancio‐ neiro popular amapaense. ●