Revista Diário - 15ª Edição - Abril 2016

Revista DIÁRIO - Abril 2016 - 79 A históriade Sofia começahámuito tempo (não se sabe ao certoquando).Numa aldeia próxima à Ilha de San‐ tanavivia uma bela índia chamada “Icorã”, comolhos cor demel, cortejada e cobiçada pelos guerreiros de sua tri‐ bo e arredores, mas ela já estava destinada ao deus Tupã quando estivesse com a idade de contrair omatrimônio. Sendo prisioneira de sua própria beleza e não podendo se unir a homemnenhum, vivia praticamente reclusa à sua oca, somente saindo para ir à beira de um lago para expor à lua sua triste sina e dividir com ela seu sofrimento. Numa dessas idas, foi avistada pelo boto tu‐ cuxi, conhecido sedutor, cuja lenda diz que ele se transforma em um rapaz formoso que seduz amoças ribeirinhas e as leva à perdição. Transformando‐se em cisne, ele a abordou e a possuiu por meio de encantamento e terminou por engravidá‐la. Tomada de remorsos, fugiu de sua aldeia e se isolou na mata para dar à luz à criança que batizou de Sofia e, após o parto, atirou‐a no lago para que se afogasse e ninguém tomasse conhecimento do pecado que cometera ao engravidar do boto feito cisne. A criança foi trans‐ formada em cobra d’água pelo pai, arrependido do mal‐ feito que assim agiu para evitar sua morte. Tempo de‐ pois, estando à beira do lago, a mãe de Sofia sentiu as águas se revolverem e viu emergir delas a gigantesca serpente que havia dado à luz. Com o par de olhos cor de mel herdado da mãe, Sofia buscou refúgio nas águas mais profundas, e tamanho es‐ forço deixou sulcos como rastros e em todo o curso for‐ mado, segundo a lenda, surgiu o rio Matapi. O lugar onde Sofia parou para descansar toda a sua envergadura, de acordo com os moradores mais antigos de Santana, é omesmo onde foi construído nos anos 1950 o antigo porto da Indústria e Comércio de Minérios S.A. (Icomi). Ali, seus movimentos, ainda pe‐ quenos e de pouca intensidade, têm cau‐ sado diversas tragédias, sendo que uma das maiores se deu em 1993 quando uma parte da plataforma do velho porto desabou sob o im‐ pacto de uma misteriosa e gigan‐ tesca onda d’água que se for‐ mou, curiosamente, no início do rio Matapi e terminando na em‐ bocadura do rio Amazonas. Segundo as pessoas que acreditam na veracidade da len‐ da, o desastre aconteceu devido a um movimento de Sofiadurante o sono. Mais recentemente, nos anos 2000, um acidente no Porto de Santana e que resultou na morte de alguns operários de uma empresa mineradora que opera no estado, embora devidamente investigados pelas autoridades po‐ liciais e marítimas, como a Capitania dos Portos, tam‐ bém foi atribuído pelos crédulos na lenda à mais uma manifestação da enfurecida Sofia. E assim, a lenda so‐ brevive como dizem os antigos... ●

RkJQdWJsaXNoZXIy NDAzNzc=