Revista Diário - 18ª Edição

A morte de José Varella mitigou todas as esperanças de sobrevivência ainda cultivadas pelo jornalista e tipó- grafo Pedro Augusto Motta, que também integrava a primeira leva transportada do Rio de Janeiro, nos porões do Campos, para a Colônia Penal de Clevelândia do Norte. Radicado emSãoPaulodesde1921, quando fugirade sua cidade natal, Fortaleza (CE), para escapar da prisão ou mesmodasbalasdospistoleiros, omilitante tornou-semem- bro atuante do grupo de editores do periódico anarquista A Plebe e do Centro Libertário Terra Livre, uma organização clandestinade revolucionários eparamilitaresdefensores da luta armada contra o governo Arthur Bernardes. A intensa atividade política nas capitais paulista e cario- canãoo afastaramde seus camaradas cearenses. Àdistância, acompanhava com entusiasmo a atuação do Centro Typo- graphicoCearense, onde teve sua primeira experiência asso- ciativa, e as reuniões do Partido Socialista Cearense, que ajudou a fundar antes do ‘exílio’ em São Paulo. Em artigo publicado em A Plebe, no ano de 1923, ele re- vela asmotivaçõespara a fundaçãodoPSCquatro anos antes, detalhando sobre o ânimo dos camaradas e avaliando omo- mento como uma época de despertar do operariado cea- rense: “(...) em1918 umgrupo de camaradas, entusiasmado pelomovimentoobreiroque vinha se operandodesde o con- tinente europeu até o sul e no extremo norte de nosso país, em consecutivas reuniões concordaram na fundação de um partido, denominado Partido Socialista Cearense. (...). OPSC surgira emuma época dedespertar do operariado de todaparte enão seriapossível que o cearense continuasse em criminoso indiferentismo pela sua organização e pela conquista de suas reivindicações, que são as de todos. E, não tardou muito, pois esta compreensão, esta ingente e natural necessidade foi logoposta provaǣ dia a dia as ϐileirasdo S engrossavam, dia a dia sua força crescia emondas colossais.” Fundador, editor e colaborador de vários jornais, tanto emFortalezaquantonoRiode Janeiro e emSãoPaulo, Pedro Motta entendia a imprensa como uma ‘trincheira de luta’ em favor dapropagandadas ideias eda organização contra a ex- ploração e a opressão. Contra os patrões, o Estado e os polí- ticos. Eranos jornaisque ele erguia suabarricadadapalavra. Uma armade combate e ferramentade luta, umportavoz dos direitos, das dores, da mis±ria, do sofrimento, ampliϐicando o grito de revolta dos trabalhadores. Ouso de jornais como ferramentas de transformação so- cial é umaspecto relevante namilitância de PedroMotta. Em seu estudo ‘Militância libertária e verbode fogo’ (2013), ohis- toriador cearense Francisco Victor Pereira Braga considera a intensa atividade jornalísticadeMottaum"(...) vestígio[cabal quepermite] conhecer fragmentosda vidadomilitante anar- quista que, além de ativista libertário era leitor, poeta social, tip×grafo, gržϐico, autodidata, editorde jornaisoperžrios, con - ferencista nos modestos salões operários, polemista, partici- pantedestacadonas lides associativas comprometidas coma luta e resistência ante a exploração e a opressão".

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