Revista Diário - 19ª Edição

Revista DIÁRIO - Edição 19 - 13 Relatos E ra noite de 6 de Janeiro de 1981, quando o barco ribeirinho Novo Amapá naufragou na foz do rio Cajari, próximo ao município de Monte Dourado (PA), levando às águas mais de seiscentas pessoas. Trezentas dessas perderam a vida e dezenas passaram horas de pânico e deses- pero, imersas na água e na escuridão. A embarcação, com suporte para transportar no máximo 150 pessoas e meia tonelada de mer- cadoria, partiu do Porto de Santana com mais de seiscentos passageiros e quase uma tonelada de carga comercial. Seu destino era o município in- teriorano de Monte Dourado, com escala em La- ranjal do Jari. Como as viagens anteriores duravam em torno de um dia e meio, o proprietá- rio do barco o havia reformado, instalando um motor hidráulico a mais, o que facilitaria na velo- cidade da embarcação. A lista de despacho, segundo a Capitania dos Portos à época, tinha registrado cerca de 150 pes- soas licenciadas pelo despachante Osvaldo Nazaré Colares. Mas na embarcação havia mais de seis- centas vidas. O despachante, falecido em abril de 2001, vítima de dengue hemorrágica, afirmou que só foi informado da tal lista após já ter partido há certas horas e que a lista foi deixada sob sua mesa, quando ele estava ausente. O comandante responsável pela viagem, Ma- noel Alvanir da Conceição Pinto, seguiu todas as instruções necessárias do proprietário, sobre a viagem. O proprietário era Alexandre Góes da Silva, que teve seu corpo encontrado no camarote da embarcação. Manoel Alvanir continuou seus serviços como marinheiro. Atualmente trabalha em algumas embarcações no porto do Ver-o-Peso, emBelém. Poucas lembranças lhe vêm à memória, quando o assunto é a tragédia do Novo Amapá. Seu único comentário volta-se para o comando do barco. Segundo versões de sobreviventes na época, a responsabilidade pela cabine de co- mando estava nas mãos inexperientes de um ga- roto. “Isso é mentira. Havia, sim, um garoto ao meu lado, na cabine de comando, mas não deixei por nenhum momento ele pegar na direção do barco, como andaram dizendo”, afirmou o ex co- mandante que fez da que seria uma simples via- gem fluvial, o maior naufrágio da navegação brasileira.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDAzNzc=