Revista Diário - 19ª Edição

E stranhamente este ano de 2017 trouxe uma maré de estados beligerantes e vio- lentos no Brasil, culminando com o con- fronto entre quadrilhas do crime organizado que se enfrentaram dentro de presídios, greves de policiais militares e incêndios em ônibus, entre outros, num clima de revolta popular. Fico me perguntando o PORQUÊ de tanta insurreição. Lembro de um professor de história geral que sempre nos explicava que, na história da humanidade, ciclos de regimes políticos e de governos, quando não mais legítimos e respei- tados pelo povo ou pelos oprimidos, acabam por ter rompimentos nem sempre pacíficos. Nosso país vive um momento em que nossa forma de pensar na coisa pública mudou radi- calmente. O slogan tão comum nas décadas pas- sadas, “rouba mas faz”, foi substituído por aus- teridade, prestação de contas, lava jato e a valo- rização da honestidade no administrar os bens do Estado. O povo começou a se dar conta de que o dinheiro desviado, pago em propinas para obtenção de vantagens nos serviços públicos, criou um sistema criminoso que emperra o de- senvolvimento e faz com que serviços essenciais como saúde, segurança e educação estejam em estado de precariedade. Desde a época do antigo INPS, que foi suce- dido pelo SUS, que hospital e saúde pública são caóticos e raramente eficientes na profilaxia e cura da população. Aeducação pública, por sua vez, com ummodelo ultrapassado e com as ins- talações sucateadas, deu lugar a uma mina de ouro: investimento em escola e faculdades pri- vadas. A segurança pública, também dever do Esta- do, andava cambaleando emuma sistema de pena e retribuição para crimes cometidos que emnada é ressocializador. Veio a Audiência de Custódia feita pelo Judiciário para analisar a não prisão e desabarrotar os presídios. Esses, então possuem condições desumanas, e a cela, onde era para alo- jar dez detentos, abriga no mínimo 30. Se a segurança já era ruim, agora parece que o caos se instalou: as facções matam, degolam e disputam o controle dos presídios; o Estado, absorto, mudo e calado, precisa reagir, transmu- dando o caos em ordem, e não sabe por onde co- meçar. Que o mundo das ideias traga logo a so- lução. A revolução que dá certo é a do conheci- mento, não a da violência, a última sempre é não legitima e terá sempre oprimido e opressor e não a sadia maioria e minoria, ciclo saudável de toda democracia, que se alternam e se respeitam. Revista DIÁRIO - Edição 19 - 64 Juízadedireito ElayneCantuária Juíza e articulista do Jornal Diário do Amapá e Revista Diário ARTIGO A perigosa insubmissão ao Estado

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