Revista Diário - 28ª Edição
CC É possível tratar pacientes com câncer no Amapá. ' ' ção dessas doenças com medidas preventi- vas. Por exemplo, o câncer de pulmão, um dos tumores mais frequentes, em que o simples fato de deixar de fumar já resolve- ria o problema ou diminuiria a incidência da doença. Diário - O câncer de pulmão foi de alta incidência? Dr. Olavo - Ainda é uma das principais causas de morte no mundo em importância e a principal causa de morte no mundo por câncer. Mas temos ainda o tumor de mama nas mulheres. Também o tumor de colo de útero, pois se fizermos acompanhamento poderemos vir a descobrir em fases ini- ciais. Agente espera que daqui a alguns anos, com a vacinação des- sas pacientes e a redução dos quadros de HPV, reduzir a quantidade de casos do câncer de colo de útero. Aqui no norte do Brasil há muito mais casos de câncer no colo do útero do que cân- cer de mama, diferentemente dos estados do Sul e Sudeste. Agente sabe que 80% dos casos de tumores estão relacionados a fatores ambientais que vão desde a alimentação a atos sexuais com riscos de contaminação pelo HPV; a obesidade relacionada ao apareci- mento de câncer do intestino; e o consumo de alimentos salgados. Diário - Tem isso também? Dr. Olavo - Sim. Temos uma região do salgado, como existe no Pará, próximo a Salinópolis, onde eles salgam demais os alimentos, e ao fazer isso e consumir a carne a pessoa corre o risco de desen- volver compostos cancerígenos. Então o consumo deles pode levar a tumores cancerígenos. Aqui no Amapá, segundo o último levan- tamento do Inca, temos em torno de 22,35 por 100 mil habitantes de casos de câncer de estômago. Diário - Aquele sal que a gente costuma colocar na pipo- quinha do cinema também? Dr. Olavo - Não. Esse tipo de sal está mais relacionado a doen- ças cerebrovasculares. Estamos falando de infarto agudo do mio- cárdio, hipertensão arterial e acidente vascular encefálico, que são as principais causas de mortes no mundo. Em 56 milhões de mor- tes que ocorrem anualmente, praticamente um terço foram causa- dos por doenças cerebrovasculares; antes eram as doenças traumáticas o segundo lugar, hoj e são as oncológicas. Com o avan- çar da idade e aumento da expectativa de vida a tendência é que as doenças oncológicas comecem a ganhar knowhow muito maior nesses números de pacientes que morrem em função delas. Diário - Todo mundo tem na família ou entre amigos al- guma história de casos de câncer. Mas quando envolve uma ce- lebridade a repercussão é maior. No caso do cantor sertanejo Leandro, que morreu há 20 anos, chamou a atenção o fato do diagnóstico vir só com o quadro de dor forte, com a doença em estágio avançado. Dr. Olavo - Oque fiquei sabendo, através da imprensa, é que o Leandro teve um tumor raro, muito raro, que a gente chama de tumor neuroectodérmico primitivo ou tumor de einstein, que foi para uma localização chamada mediastino, entre os pulmões, onde está o coração, onde estão inúmeros nervos e vasos importantes do corpo, artéria pulmonar veias pulmonares, a artéria aorta. Mas a morte dele não foi nem no sentido de metastatizar, foi o cresci- mento local descoberto realmente numa fase avançada e que não tem como definir o diagnóstico antes. Diário - Esse é o x da questão: o diagnóstico precoce, não é? Dr. Olavo - Mas ninguém pode sair fazendo exal!les de tomo- grafia nos pacientes se ele não está sentindo nada. E submeter o paciente a um exame que tem seus riscos, radiação, em busca de um procedimento. Quando eu coloco isso é devido à questão do modismo, pois hoje a moda é fazer exame chamado PET Scan, ou PET CT. Muitas pessoas chegam ao consultório e pedem para fazer. Costumo dizer que não é um exame isento de riscos, é um exame de acompanhamento ou seguimento de al- guns tumores específicos, portanto não vale a pena fazer para todo mundo. Diário - Com relação à dieta amazô- nica, existem alguns hábitos alimenta- res de risco? Dr. Olavo - A nossa dieta amazônica é adequada, com exceção dos alimentos sal- gados. Um exemplo é o açaí, que possui inú- meros antioxidantes, o que é um fator protetor para vários tipos de tumores e que podem se desenvolver. Com relação ao res- tante da nossa dieta não tem nada especi- ficamente que esteja tão relacionado ao desenvolvimento do câncer. Diário - Há quem diga no Amapá que diante de um diag- nóstico de câncer o melhor médico é o aeroporto de Macapá... Dr. Olavo - Isso é uma realidade, infelizmente, não só do nosso estado. Costumo falar que quem está no Amapá quer ir para Belém; quem está em Belém quer ir para São Paulo; quem está em São Paulo quer ir para os Estados Unidos; quem está na China, para a Lua! [risos] já ouvi várias vezes esta pergunta: "O senhor indica que eu faça tratamento fora?" Não indico. O único tratamento que não temos hoje em nosso estado e que em breve teremos é a radio- terapia. Nos demais, temos cirurgiões capacitados e oncologistas clínicos capacitados nos melhores centros deste país. A nossa es- trutura pública está gradativamente melhorando, graças a Deus. Na rede privada temos um hospital que dá excelente estrutura hos- pitalar e centro cirúrgico para a gente poder conduzir os pacientes. Mas se ele não se sente seguro, sempre defendo que deve procurar uma segunda opinião médica. Sinto-me confortável de tratar pa- cientes no Amapá, meu estado de origem. Perfil... ~ OlavoMagalhãesPicanço Junior possui graduação ~em Medicina pela UniversidadedoEstado do Pará (2001), éespecialistaemcancerologiacirúrgica (2007) e cirurgiageral (2005) com residência médica reconhecida pelo MECno Hospital Ophir Loyola (Belém-PA). Revista DIÁRIO- Edição 28 - 21
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