Revista Diário - 28ª Edição

Comportamento ClaudlaOliveira Psicóloga clínica - CRP 10-3480 "Onde acaba oamor tem início o pode0 a violência e o terror''. CARL GUSTAVJUNG Violência contra amulher P ercebe-se que ao longo da história mundial opa- pel da mulher sempre esteve colocado em uma situação de desigualdade diante da sociedade, desde os relatos bíblicos, onde o feminino configura si- nônimo de culpa. Eva é culpabilizada pela perda do Éden ao comer e oferecer o fruto proibido a Adão. A mulher foi referenciada na mitologia, na filosofia, de forma pejorativa. Na arte, a imagem da mulher foi des- crita conforme o papel que ela exercia. E desse modo, essa imagem foi retratada, construída e transformada. Ao longo da história os estupros, os abusos de toda forma e a submissão faziam parte ou faz parte da rea- lidade cultural do mundo. Quando observamos as mais diversas músicas bra- sileiras pode-se analisar a forma como a mulher é vista, já que costumam retratar com muita fidelidade a rea- lidade histórica percorrida pelo Brasil. Como por exemplo as descrições deAmélia, feita por Mário Lago e Ataulfo Alves, com sua imagem de submissão e dedi- cação plena aos afazeres domésticos, sendo assim co- locada como "a mulher de verdade". Chegando atual- mente nas "cachorras''. "potrancas" e "popozudas''. evi- denciadas pela sensualidade exacerbada que tende a uma aparente vulgaridade através das descrições las- civas de seus compositores. Ao analisar as leis, percebemos que desfavoreciam muito as mulheres, onde não tinham direito de votar e ser votada, podendo até ser mortas pelo marido, caso cometesse adultério, e tal crime recebia o escudo da "legítima defesa da honra". Até pouco tempo existia o Estatuto da Mulher Casada, onde a mulher passava do domínio do pai, para o domínio do marido. Depois de tantos anos de desvalorização, sendo desvalorizadas, vistas como seres inferiores, muitas lu- tas passaram a ser travadas. Dessa forma, a mulher co- meça a sair do mundo de submissão para um mundo de conquistas, conseguindo a duras penas que leis co- mo a Maria da Penha comecem a emergir; defendendo e garantindo seus direitos. Quando digo a duras penas, o próprio nome da Lei Maria da Penha foi conseguido depois de uma violência sofrida pela senhora que em- prestou o nome para a lei ter soffrido violência de seu parceiro. Eassim, a violência contra a mulher; mesmo que em doses homeopáticas, foi sendo considerada cri- me. Emesmo com o avanço, com as conquistas, perce- be-se que ainda hoje a mulher sofre violência de toda ordem, inclusive tendo suas vidas ceifadas. Daí surge, recentemente, a Lei que trata do Feminicídio, onde se pune mais gravemente aquele que mata uma mulher; em virtude do gênero. Essas leis buscam conscientizar a sociedade quan- to à gravidade da violência contra a mulher; seja ela fí- sica, moral, psicológica ou patrimonial. Portanto, em qualquer sinal de violência, mesmo que não consiga ver como violência, deve-se ficar atento, para que se evite um mal maior. Atentar para o medo, as condena- ções feitas até mesmo por olhares, os comentários pe- jorativos referentes a roupas, comportamento e tantas outras coisas, devem ser evitados. O ciúme excessivo, a sentença de que você é propriedade de alguém, a proibição de falar com alguém, e assim se começa a perceber uma falta de alegria de viver; um desconforto, que sua dignidade começa a ser roubada. O melhor; mesmo, é buscar ajuda, o mais rápido possível. E para os que ainda acreditam no dito popular de que "em briga de marido e mulher não se mete a co- lher", fique sabendo que está ultrapassado. Deve-se de- nunciar; sim. E assim sendo esse bicho esquisito que sangra todo mês, que gera, amamenta, chora, ri, ama, trabalha, cuida, vive, a mulher é indiscutivelmente o ser mais esperto e lindo que já ousou existir. Consultório Psiqué -Avenida FAB, 1070 - Sala 306 - Edifício Macapá Office - 98127-0195 Revista DIÁRIO - Edição 28 - 05

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