Revista Diário - 3ª Edição - Fevereiro 2015
Revista DIÁRIO - Fevereiro 2015 - 7 Jari Celulose sobreviveu na gestãodos netos deAntunes, Guilherme e Mário Freming até1999. Comumadívidade R$ 300milhões, repassaram por simbólico R$ 1 real o problema para o grupoOrsa, de São Paulo. LEGADO AugustoAntunesmorreu em1996, aos 89 anos, vítima de ataque cardíaco. NoAma‐ pá, teve muito reconheci‐ mento, mas a nível nacional e até internacional, virara um mito. Ele chegou a ser exaltado como o “Mauá do século 20”, referência a Iri‐ neu Evangelista de Souza (1813‐1889), um empreen‐ dedor fervoroso, considera‐ do uma das personalidades mais importantes e influen‐ tes do Segundo Reinado no Brasil. E Antunes foi além. Aplicou conceitos de sustentabilidade, especialmente noprojetodoAmapá, odemaior visibilidade, onde trouxe o padrão americano de moradia, controle sanitário e de zoonozes. O esgoto da bucólica vila de Serra doNavio era todo tratado antes de ser devolvido ao rio. A Icomi ado‐ tava rigoroso programa de gestão com qualidade, que passava por proporcionar lazer, entretenimento, saúde preventiva e qualificação de mão de obra. Seus empregados costumavam fazer carreira na companhia, iniciando como braçais e depois passando por cursos até de alfabetização e treinamento pofissio‐ nal em outros ofícios. E Antunes também se adaptava. Nos cursos de alfa‐ betização para adultos, em Serra do Navio, mandou de‐ senvolver os livros junto aos maiores especialistas em linguistica, para que retratassema fala cotidiana dos ca‐ boclos recrutados no Amapá e arredores. Atémesmo as residências funcionais passarampor adaptações do pro‐ jeto original, como acesso extra para as casas dos fun‐ cionários mais humildes, que não tinham a cultura de usar banheiros dentro de casa. FAMÍLIA AugustoAntunes teve apenas dois filhos, Beatriz e Cé‐ sar. Ela temmais de 80 anos emora noRio de Janeiro. Ela deu três netos a Antunes, Fábio, Mário e Guilherme, este dois últimos os su‐ cessores do avô na Caemi. O outro filho era César, que morreu em 1970, uma das grandes frustra‐ ções do empresário. Ce‐ sar deixou três filhos, Ale‐ xandre, Stella e Suzana. Toda a família ficoumuito bem de vida após o pas‐ samento de Antunes. A imprensa especializada estima que ninguémficou com menos do que o equivalente a US$ 48,4 milhões cada um. Os netos Guilherme e Mário chegarama tocar o grupo e ensaiaramalgum resultado, mas os sucessi‐ vos erros de estratégia começaramaminar o im‐ pério herdado de Augusto Antunes. Acabaram optando por repassar o controle do grupo, para a Mitsui e a BHP. Já a Fundação Caemi, outra grande sacada de Antunes, foi vendida para a Fundação Bradesco. Esse braço previ‐ denciário do grupo era para garantir uma aposentadoria mais tranquila aos empregados. Para se ter uma ideia, quem se aposentou pelas empresas de Antunes, recebe – ainda hoje – o salário pago pelo INSS e uma comple‐ mentação da Fundação, corrigida três vezes por ano. LIÇÕES Antunes gostava de dizer que dois estadistas mar‐ caram profundamente a sua vida: Gamal Abdel Nasser (1918‐1970), o presidente egípcio que fechou o Canal de Suez em 1956, dificultando as exportações da Índia de manganês e disparando o preço no mercado. E Ni‐ kita Kuruchev (1894‐1971), primeiro ministro sovié‐ tico, porque com a Guerra Fria cancelou a venda de manganês para os Estados Unidos, fazendo subir ver‐ tiginosamente o preço do minério, viabilizando ainda mais a exploração no Amapá. Tambémgostava de citar Guimarães Rosa, que dizia: “Sábio não é quem sabemuito, é quemaprende rápido”. Em 1965, criou a MBR –Minerações Brasileiras Reuni‐ das, hoje coma Vale, resultado da junção de reservas da Caemi e da St. John Del Rey Mining. ● ● Projeto Icomi na Serra do Navio fez a extração de mais de 10 milhões de toneladas de manganês nos 50 anos de atividade da empresa fundada por um empresário à frente de seu tempo, que foi Augusto Trajano de Azevedo Antunes, um gênio dos negócios. ● O edifício Caemi, na praia de Botafogo, no Rio de Janeiro, ainda hoje empresta referência de sucesso para o mundo dos negócios no Brasil e fora dele.
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