Revista Diário - 4ª Edição - Fevereiro 2015
I magine que você acaba de perder um filho ou irmão vítima de um trágico acidente de carro. Não há dor pior, não é mesmo?! Agora, que tal se você fosse obrigado a assistir ao processo lento e gradual damorte dessemesmo ente que‐ rido, semque você conseguisse fazer ab‐ solutamente nada para evitar, e ainda sob o sentimento que tudo estaria acon‐ tecendo por sua culpa? Então, é exata‐ mente assimque os familiares de depen‐ dentes de crack se sentem. E, com certe‐ za, você se deparou comalguns deles nos últimos meses. Estudos da Fiocruz estimamque exis‐ temmais de 2.500 usuários regulares de crack ou similares (pasta base, merla e óxi) apenas em Macapá. Um número as‐ sustador, se pensarmos quemais de 30% deles estarão mortos em 12 anos (mor‐ talidade maior que a de muitos tipos de câncer). Para se ter uma ideia, cerca de 70mães irão chorar, em2015, pela mor‐ te de seus filhos em virtude do crack, apenas emMacapá. Enxergando o problema desta forma, fica fácil compreender como alguns paí‐ sesmantêmpolíticas de tolerância zero a traficantes que facilitama entrada dessas drogas em seus países. Como no episódio do brasileiroMarco Ar‐ cher, executado em janeiro na Indonésia por tráfico de cocaína. Por ser produzida através dos restos da cocaína em pó, o crack e seus derivados acabam sendo drogas de baixo custo e atraentes para regiões com menor desenvolvimento humano, como no Norte e Nordeste. Pra completar, o su‐ porte de saúde pública praticamente ine‐ xistente para atender esses pacientes cria um terreno perfeito para o caos. Usuários de crack demandammuitos recursos em seus tratamentos. Costu‐ mam ser portadores de ansiedade, de‐ pressão, transtornos de personalidade e, rotineiramente, necessitam de interna‐ ções prolongadas em ambientes com equipe multidisciplinar, de médicos psi‐ quiatras a terapeutas ocupacionais, além do uso contínuo de medicações de alto custo para o controle de sintomas e pre‐ venção de síndromes de abstinência. A boa notícia: no ano passado, a Po‐ lícia Militar do Amapá instalou 19 pon‐ tos de monitorização eletrônica em pontos estratégicos de Macapá, através do programa do Ministério da Justiça “Crack, é possível vencer”. Agora, falta o Ministério da Saúde começar a fazer a sua parte e encarar a situação como um grave problema de saúde pública, e não de polícia. ● Revista DIÁRIO -Março 2015 - 10 ViverBem DoutorAlessandroNunes, médico professor da Unifap, especializado em Clínica Médica pela Unifesp, e Geriatria, pela USP. A assustadora invasão do crack Estudos da Fiocruz estimam que existemmais de 2.500 usuários regulares de crack ou similares (pasta base, merla e óxi) apenas emMacapá. Número assustador, se pensarmos que mais de 30% deles estarão mortos em 12 anos (mortalidade maior que a de muitos tipos de câncer). CRACKNONORTE Proporção de usários na população das capitais: 0,64 (Brasil 0,81%) Consumo de crack já representa 20% do total de drogas ilícitas; 10% sãomenores de idade CRACKNOBRASIL 80% consomem emvia pública 80% são homens 60% são solteiros 80% oumais não chegaramao ensino médio 68% vivemde bico e 13% de esmolas 7,5% fazemou já fizeram relações sexuais por droga 30% morremem 12 anos
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