Revista Diário - 4ª Edição - Fevereiro 2015

além de suas fronteiras geográfi‐ cas, o bálsamo benigno para suas dúvidas, expectativas, frustrações e inquietações. Sem condições e logística ade‐ quada para prover o sustento de sua economia, quanto mais para desenvolvê‐la, o Amapá caminha a esmo na contramão da maioria das unidades congêneres, man‐ tendo a dependência em relação ao governo federal, apesar de ter conquistado a sua autonomia po‐ lítico‐administrativa há quase três décadas. Assim (des)provida, a econo‐ mia amapaense permanece esta‐ cionada sem vislumbrar possibili‐ dades concretas de avanços mais significativos. O estado sequer atua como coadjuvante no cenário sociocultural e político do país e, para piorar ainda mais essa condi‐ ção, o próprio cidadão amapaense se diminui ainda mais ao reconhe‐ cer a suposta inferioridade à qual é relegado e midiatizá‐la da forma menos apropriada em face da rea‐ lidade atual, globalizada e cosmo‐ polita em que o potencial históri‐ co, ambiental e turístico de seu lu‐ gar faz frente a qualquer outro re‐ canto planetário, sem incluir nesse pacote o universo da religiosidade e seu sentido de africanidade que caracteriza a formação sociocultu‐ ral de sua gente miscigenada. O estigma da dependência que parece ter sido tatuado na pele do amapaense e que se enraizou no cotidiano local, poderia ter sido evitado ou pelo menos minimiza‐ do se os projetos econômicos que aqui foram instalados tivessem, de fato, favorecido o Amapá e sua po‐ pulação, e não terem, de forma predatória, dilapidado o patrimô‐ nio e a auto‐estima de um povo que, dentre tantas qualidades, é conhecido mundo afora pela sua generosidade e hospitalidade. Desde a extração das “drogas do sertão” e as disputas estrangei‐ ras nos tempos coloniais, passan‐ do pelo projeto Icomi e a malfada‐ da prospecção manganífera da época do TFA até desembocar na Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (ALCMS), que mais con‐ tribuiu para o crescimento das mazelas sociais do que para pôr fim à chamada “economia do con‐ tracheque” operada pelo funciona‐ lismo público, a economia ama‐ paense mal engatinhou. Nenhum grupo econômico que no Amapá tenha estacionado se preocupou – à exceção da Icomi em alguns aspectos – em fortale‐ cer a economia local e aproveitar e valorizar a mão de obra disponí‐ vel. Pelo contrário, foram os inte‐ resses do capitalismo internacio‐ nal que sempre pautaram as ações e as matrizes, as beneficiárias das remessas de lucros e vantagens dos negócios. Sendo a “porta de entrada” do quintal brasileiro, o Amapá tem si‐ do a “porta dos fundos” da política e dos investimentos nacionais e in‐ ternacionais. Internamente, o es‐ tado não consegue varrer – a não ser para debaixo do tapete – a cor‐ rupção que enlameia e envergo‐ nha ainda mais os seus cômodos e moradores. O que resta para massagear o ego e prover overdoses de amor próprio nos “cabocos” amapaen‐ ses, no rastro das lendas, misté‐ rios, costumes, crenças que po‐ voam o imaginário surreal presen‐ te no dia a dia desta “tribo”, são as possibilidades de se alavancar a economia através da melhor ex‐ ploração das riquezas naturais que abundam em seu preservado território, do ambientalismo, do ecoturismo, dos esportes radicais, do notável patrimônio histórico, das tradições religiosas, e do sen‐ tido de africanidade expresso por meio de suas manifestações artís‐ ticas, culturais e folclóricas que certamente podem mudar o qua‐ dro de “gastura” em que sua terra secularmente se encontra. ● Revista DIÁRIO -Março 2015 - 29

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