Revista Diário - 4ª Edição - Fevereiro 2015
Revista DIÁRIO -Março 2015 - 30 Memória C hovia. Sábado, 23 de fevereiro de 1985. Avenida Procópio Rola, esquina com a Rua Eliezer Levy, no centro deMacapá. Galhos demangueiras eramba‐ lançados pelas rajadas de vento, lançando ao chãoos fru‐ tos maduros que faziam a alegria de crianças e adultos, servindo de alimento paramuitos deles. Estranhamente os pássaros emudeceram– o que não era comum. No in‐ terior da casa havia aparente paz... Reinava o silêncio. De repente, gritos se fizeramouvir: abruptamente sai da ca‐ sa umdesesperadopai de família, aos prantos, anuncian‐ do a morte da jovem esposa, atraindo populares. A cena era dramática. A vários quarteirões dali, o comerciante João Fenício Diniz, que atendia alguns clientes, foi inquirido por um deles, que acabara de chegar: ‐ Você sabe me dizer se o Pinheiro temmais de uma nora? ‐ Não, só a minha filha! ‐ Então te prepara para o pior, porque, ao que parece, ela morreu... Perplexo, Diniz chama pela esposa, Dalva, que estava nos fundos da loja e a informa do ocorrido. A pobremu‐ lher larga tudo e parte, desesperada, para a casa da única filha. Ao chegar ao local é recebida pelo genro, que a abraça, chorando, comunicando‐lhe o ocorrido: ‐ A Fátima teve um infarto e não resistiu: está morta! E agora, o que vai ser da nossa vida? Livre dos braços do genro, dona Dalva correu em di‐ reção ao quarto e se deparou com um cenário que ne‐ nhuma mãe em todo o mundo está preparada: a filha amada jazia inerte, no leito conjugal, totalmente coberta com o lençol que à noite lhe protegera do frio, tendo ao lado o único filho com a tenra idade de dois anos. Sob forte comoção, dona Dalva puxou com força o lençol que cobria o corpo sem vida da filha e seu olhar foi desviado para uma enorme mancha rubra e inchada no pescoço, constatando que Fátima nãomorrera de su‐ posto infarto anunciado pelo genro, mas, sim, que fora assassinada pelo próprio, esganada! Num ímpeto, alucinada, a mãe foi à cozinha, armou‐ se de uma faca e correu emdireção ao assassino, que es‐ tava na área externa, conversando comvizinhos e conhe‐ cidos, tentando justificar o injustificável. No meio do ca‐ minho, entretanto, murmurando comseus botões, dona Dalva recuperou a razão e atirou a faca ao chão: ‐ Não sujarei de sangue assassino estasmãos que car‐ regaramdurante tanto tempo aminha filha, que a acari‐ ciaram, paramatar essemonstro. Acredito e vou confiar na justiça! – e partiu emdireção ao genro: ‐ Seu assassino! Você matouminha filha! Amultidão, revoltada, esboçou reação para fazer jus‐ tiça comas própriasmãos,mas foi contidapelos próprios parentes de Fátima. Acionada, a polícia compareceu à ce‐ na do crime e o algoz, algemado, foi levado à única dele‐ gacia então existente emMacapá, onde permaneceupre‐ so por poucos dias. ● Texto: Ramon Palhares Fotos: Arquivo Mulher,mãe, mitodebeleza emártir FátimaDiniz: 30anos sema eternaMiss Amapá
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