Revista Diário - 4ª Edição - Fevereiro 2015
Revista DIÁRIO -Março 2015 - 31 U m dos irmãos de Fátima, Américo Diniz, hoje com52 anos – na época 22 – , não esquece o cenário: “Foi muito difícil para to‐ dos; minha irmã não se destacava apenas pela beleza: era doce, carinhosa, carismática, fazia amigos comfacilidade, cheia de sonhos, mas acabou sucumbindo à primeira pai‐ xão corroída por um ciúme doentio e animalesco que aquele assassino nutria por ela”. Hoje advogado, Américo se destacou pela saga que empreendeu para colocar o algoz de Fátima na cadeia, naquela época uma proeza, por conta do prestígio da fa‐ mília do cunhado: “Ele era de família influente, tanto que, mesmo condenado a 12 anos, que é a pe‐ na mínima para homicídio qualificado, permaneceu preso por pouco mais de um ano, depois seguiu a vida sob o manto da impunidade”, lamenta. De acordo com relato de Américo, mesmo cumprindo pena em regime fe‐ chado, o juiz da época permitiu que o ho‐ micida fosse transferido para o presídio São José, em Belém, concedendo‐lhe o bene‐ fício de cursar faculdade. “Foi uma decisão ab‐ surda porque não foi obedecida a progres‐ são de regime, que exige inicialmente re‐ gime fechado, depois o semiaberto e, por fim, o aberto. Comagravante: a alegação de que cursaria faculdade era balela, pois já tinha diploma de curso superior. E o pior: ele ficou apenas três dias no presídio”, protesta. A morte de Fátima Diniz e os desdo‐ bramentos do caso repercutiram muito tempo na imprensa nacional, com destaque para a saga de Américo para que justiça fosse fei‐ ta, destacando‐se episódio ocorrido na fila de embar‐ que doAeroporto Val de Cans: por coincidência, Américo estava na fila de passageiros da Cruzeiro do Sul, enquan‐ to o homicida, foragido, commandado de prisão da Jus‐ tiça do Amapá, ocupava fila de passageiros da Vasp. Ao vê‐lo, Américo correu na direção dele, desferindo‐lhe um murro no rosto, atirando‐o a metros de distância. “Foi uma confusão tremenda. Eu estudava emBelém e tinha no meu apartamento cópia autenticada do man‐ dado de prisão. Na época não tinha internet para consul‐ tar mandados, e não existia o InfoSeg. Fui conduzido à delegacia, com ele. Lá, expliquei que ele era o assassino deminha irmã e possuíamandado de prisão. Mandei um colega ao apartamento, para buscar omandado. Enquan‐ to aguardávamos o documento, o cara foi colocado no xa‐ drez e eu permaneci na sala da delegada. Já com o man‐ dado emmãos, o assassino ficou preso, só que, lamenta‐ velmente, mais uma vez, por poucos dias, logo ganhou a liberdade”, lamenta Américo. Duas famílias de grande prestígio na época foram parcialmente destruídas. A Diniz ficou sem sua maior fortuna, Fátima. A família Pinheiro, com a mácula de ter entre a prole um homicida cruel, atirando na orfandade o filho de dois anos de idade. Na outra ponta, o caso abriu uma ferida que até hoje sangra, pois não foi administrado o antibiótico `Justiça`, fazendo prevalecer o manto lúgu‐ bre e lamentável da impunidade. ● Umdrama alimentado pela impunidade
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