Revista Diário - 4ª Edição - Fevereiro 2015

N este 8 de Março, lancemos um olhar sobre os múltiplos aspectos que tecem a condição de existência de uma mulher em particular: a mu‐ lher negra, inserindo‐a no contexto da diáspora negra‐ resultante da expansão colonial‐imperialista e do con‐ sequente processo de escravidão. Resistindo à violência da escravidão, as mulheres negras são protagonistas na recriação e ressignifica‐ ção da memória cultural do seu povo, fortalecendo la‐ ços de solidariedade. Assim, se gestam a identidade da mulher negra. É no contexto da escravidão negra que recai so‐ bre a inserção social das mulheres de origem africa‐ na, uma contradição fundante: o processo de coisifi‐ cação que a reduz a instrumento de trabalho neces‐ sário à reprodução da ordem econômica escravista, se confronta com o papel intelectual e socioafetivo que elas desempenham na organização da cultura negra, na medida em que se constituem mentoras das múltiplas estratégias de sobrevivência indivi‐ duais e coletivas de seu povo. A partir da condição singular que a escravidão nos coloca, vai se gestar em torno da mulher negra o “mito da força”. Assim, reproduz‐se no imaginário coletivo a ideia de que a mulher negra é capaz de resistir a qualquer dor, qualquer sofrimen‐ to. Essa construção se faz em opo‐ sição à percepção da imagem da mulher branca, percebida como a sinhazinha, exemplo de doçura e fragilidade, objeto de afeto, amor, veneração e cuidado. Assim, destituídas das fragilida‐ des atribuídas ao gênero feminino, as mulheres negras usavam a imagem de fortes como instrumento de afir‐ mação e resistência. Vale lembrar, ainda, que as mulheres negras preci‐ sam resistir aos estereótipos racistas e sexistas cons‐ truídos e difundidos no imaginário social brasileiro, pois as formas como o estupro colonial contra negras e indígenas foi romantizado na história, contribuiu de‐ cisivamente para apresentá‐las como lascivas e exces‐ sivamente sexualizadas, visão muito bem sintetizada na ideia da “mulata boa de samba e de cama”. Essa percepção da mulher negra integra o conjunto de representações que conformam o mito da igualda‐ de racial, discurso de negação da existência do racis‐ mo e das desigualdades raciais na sociedade brasilei‐ ra. Essa lógica é funcional, também, à arquitetura do chamado racismo cordial ou racismo à brasileira, um racismo cínico e violento que edifica a ideologia do embranquecimento, conferindo privilégios da brancu‐ ra e estruturando relações de poder desiguais entre negros e brancos. É na luta contra a dominação/opressão que as mu‐ lheres negras vão forjando sua identidade. É aí que elas vão tecendo formas singulares de existência, constituindo‐se sujeitos po‐ líticos coletivos, criando condições para responder as demandas de enfrenta‐ mento das condições ad‐ versas estabelecidas pela dominação ocidental euro‐ cêntrica. Que neste 8 de Março as mulheres negras do Amapá olhem sua história com or‐ gulho e se unifiquem na lu‐ ta por uma sociedade sem racismo e sexismo. ● AlziraNogueira daSilva Assistente social e professora aindaumespaçoamplono âmbitodoméstico(mãee esposa), enfrentograndiosos desafiosdiáriosaserem superados. Porém, firmena defesaeorganizaçãodemulheres trabalhadorase revolucionárias, ao ladodesuaclasse,mantenho- mevivanocombatepor um movimentodeemancipaçãoda mulher. Porque, comodisseo grande revolucionário russoLênin, aúnica formadeemancipar a mulher éemancipar oconjuntoda classe trabalhadorapela revoluçãonasociedadeea construçãodenovasbases sociais, semexploração, sem opressãoecomigualdadeplena entrehomensemulherese, ainda, sobretudo, entremulheres brancasenegras.Assim, aorigem dodia8demarçodeveser transformadaemlutanos365 diasdecadabrasileira, decada amapaense, ondeafinalidadede nossasvidas seconfundirácoma finalidadedatransformação históricadeconstruir umanova sociedade, emigualdadecomo homem, emigualdadeétnico racial, onde todosos resquíciosde opressãosejamexcluídosdocurso dahistória. Revista DIÁRIO -Março 2015 - 37

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