Revista Diário - 4ª Edição - Fevereiro 2015

Q uem não gosta de um café feito na hora com salgado quente, bolo de milho, macaxeira, chocolate, tapio‐ ca? Tudo isso com a cor e o perfume da Amazônia, e sabor Amapá? Umdos maiores peixes da bacia ama‐ zônica, o pirarucu ganhou a fama de ba‐ calhau brasileiro. Isso porque na região Norte a carne do peixe costuma ser ven‐ dida salgada na forma de mantas. Com lombo alto, a espécie rende postas largas, e caiu no gosto de vários chefes de cozi‐ nha. Entre eles, Alex Atala, o responsável por fazer a comida brasileira conhecida mundo afora, e Ana Luiza Trajano, que usa a espécie desde a inauguração do Brasil a Gosto, restaurante que tema pro‐ posta de resgatar e divulgar o que as re‐ giões brasileiras têm de melhor em ter‐ mos de receitas e ingredientes. Hoje o brasileiro encontra o pirarucu nas grandes redes de supermercados por uma faixa de R$ 50 a R$ 60 o quilo do filé. Isso só se tornou possível graças ao tra‐ balho conjunto de uma série de parceiros: Sebrae, Embrapa, Ministério da Pesca e Aquicultura e empresas, como a Mar e Terra, uma das maiores exportadoras de peixe do Brasil. Ogargaloda produção emcativeirodo pirarucu é a reprodução. Ele não aceita o método artificial, pelo contrário, oproces‐ so lembra o relacionamento de humanos. A fêmea escolhe omacho, forma casal e só então desova. É ele o responsável por ca‐ var um buraco no açude, o ninho, onde a fêmea põe os ovos, que o macho cobre comos espermas. Esse processo se repete umas cinco vezes. Só então ela choca os ovos, enquanto ele vigia os arredores. O zootecnista Thiago Testuo Ushizi‐ ma, responsável pelo setor Pesquisa eDe‐ senvolvimento da Mar e Terra, conta que no início eles separavam as fêmeas dos machos observando características exter‐ nas. “Mas os peruanos emparceria como franceses descobriram que as fêmeas do pirarucu têmumhormônio específico no sangue, a vitelogenina e assim passou a ser possível saber quemémacho e quem é a fêmea pelo exame de sangue”, diz. A tecnologia aumenta a chance de su‐ cesso na formação de casal, mas nem sempre a fêmea aceita o pirarucu coloca‐ do para ser parceiro. Essa peculiaridade da espécie torna o alevino caro, cerca de R$ 15 cada. Mas a complexidade da re‐ produção é compensada pelo ganho de peso da espécie. “Um pirarucu chega a 10, 12 quilos em um ano. Nenhum outro peixe tem uma conversão alimentar as‐ sim”, diz Ushizima. Hoje, aMar e Terra exporta o pirarucu para os Estados Unidos e Europa. O feito só se tornou possível por causa de um projeto piloto iniciado emRondônia, que cadastra eletronicamente as matrizes do peixe com microchips. Antes, a exporta‐ ção era proibida pelo fato do pirarucu ser considerado um peixe em extinção e es‐ tar na lista da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Selvagens Ameaçadas de Fauna e Flora (Cites). Agora, comomonitoramento ele‐ trônico, é possível saber se o pei‐ xe é de captura ou de uma fa‐ zenda de cultivo. O pirarucu agora compete lá fora com pei‐ xes já consagrados nomercado: o salmão do Chile e o peixe pan‐ ga do Vietnã. (Fonte: Revista Globo Rural). ● Commonitoramento eletrônico, é possível saber se o pirarucu é de captura ou de uma fazenda de cultivo. Hoje, o peixe é exportado para os Estados Unidos e Europa. Pirarucuganhaomundo O pirarucu agora compete compeixes já consagrados nomercado: o salmão do Chile e o peixe panga do Vietnã. Concorrência Gastronomia Revista DIÁRIO -Março 2015 - 56 GilMarra, chef decozinha Fabiano Menezes O gargalo da produção em cativeiro do pirarucu é a reprodução. Ele não aceita o método artificial, pelo contrário, o processo lembra o relacionamento de humanos. A fêmea escolhe omacho, forma casal e só então desova. É ele o responsável por cavar umburaco no açude, o ninho, onde a fêmea põe os ovos, que o macho cobre com os espermas.

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