Revista Diário - 4ª Edição - Fevereiro 2015

Revista DIÁRIO -Março 2015 - 76 Os últimos naufrágios registrados no Amapá levantam debate sobre a tecnologia dos estaleiros artesanais, um conhecimento milenar que carpinteiros repassam de geração “Foi Noé quemnos ensinou a construir” U ma análise superficial sobre os últimos acidentes comem‐ barcações regionais no Ama‐ pá acabou por colocar em xeque a tecnologia empregada na constru‐ çãodas embarcações que costumam singrar os rios amazônicos comcar‐ gas ou passageiros. O caso mais re‐ cente foi onaufrágiodobarcomotor Reis I, que emborcou após a romaria fluvial do Círio de 2013. Informa‐ ções extraoficiais deram conta de que amá colocação dos passageiros teria tirado a estabilidade do barco, levando‐o ao fundo em seguida, e matando 18 pessoas, no dia 12 de outubro. Ocerne da questão é saber se, de fato, os barcos regionais carecemou não ter “lastro” para garantir sua es‐ tabilidade. Segundo osmais antigos, o lastro costuma ser a carga nos po‐ rões das embarcações. Em eventos de turismo ou lazer, quando não se leva bagagem nos porões, os barcos ficariam desequilibrados com os passageiros ocupando apenas os an‐ dares superiores. TRADIÇÃO Antônio Jorge Cardim, 45, é um desses carpinteiros navais do Ama‐ pá. Ele atua há mais de dez anos numestaleirona vila doElesbão, zo‐ na rural de Santana, onde, aliás, exis‐ te a maior concentração de em‐ preendimentos desse segmento. Diz ter aprendido o ofício com um tio, que aprendeu comseu avô. “Na ver‐ dade foi Noé quem nos ensinou a construir os nossos barcos, pois ele teve que construir uma arca gigante para salvar as pessoas e os animais, como diz a Bíblia”, recorda. Ele tem razão. Não se podemenosprezar es‐ se conhecimento tradicional. Mas onde então estaria o ‘x’ da questão dos acidentes fluviais? ● Texto e fotos: Cleber Barbosa ● Antônio Cardim Navegação

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