Revista Diário - 5ª Edição - Abril 2015

O livro do Gênesis, que conta a histó‐ ria da Criação, é umdos mais belos poemas escritos pelo homem, mas ele não se aventurou a dizer quandoDeus resolveu fazer a Terra e o homempara do‐ miná‐la. Disse apenas que o “espírito de Deus se movia sobre as águas”. Hoje, nós, cristãos, e o mundo inteiro, adotamos o calendário gregoriano, do Pa‐ pa Gregório XIII, que foi autorizado pelo Concílio de Trento a alterar o calendário antigo. Desde Numa Pompílio, o calendá‐ rio romano tinha um ano de 355 dias al‐ ternado comumano de 377 dias aumen‐ tado de um mensis intercalaris. Era fun‐ ção do pontifexmaximus acrescentar de‐ terminar quando era intercalado esse mês. Júlio César, pontífice máximo desde 63 a.C., encontrou uma grande confusão no calendário, que estava inteiramente descompassado das estações por negli‐ gência dos seus antecessores e substitu‐ tos. Assim, em 46 a.C. — o ano 708 AUC (da fundação de Roma) —, ele estabele‐ ceu o calendário juliano de 365 dias com o quarto ano bissexto, medida que apren‐ dera no Egito. Para acertar o passo ele fez esse ano ter 445 dias. Como o ano solar não é de 365 dias e 6 horas, mas de 365 dias, 5 horas, 49 mi‐ nutos e 12 segundos, persistia um erro, que o calendário gregoriano corrigiu eli‐ minando os anos bissextos divisíveis por 100, exceto se forem divisíveis por 400. Complicado, não? Restou uma falha em relação ao ano astrológico, que necessitará de umdia de correção a cada 3.323 anos. Para acertar os dias que tinhamsido acrescentados a mais, a entrada em vigor do calendário gregoriano eli‐ minou 11 dias, pulando de 4 para 15 de outubro de 1582. Era a época da Reforma, e os países protestantes não aceitaram a mudança, e só foram aderindo aos poucos — a Grécia em 1923 — de modo que as datações europeias dos anos seguintes fi‐ caram bastante confusas. A contagemdos anos no nascimento de Cristo começou a partir de 525. Até lá, no império romano, que dominava a Europa, contava‐se, em geral, a partir da ascensão de cada imperador. Ainda outromotivo de confusão era que cada país começava o ano numa data diferente: janeiro, março, Páscoa, Natal etc. Podia falar demuitos calendários, cada povo teve o seu. O maia era complicado e tinha várias contagens. Uma destas, a “lon‐ ga”, reiniciou em2012, o que originou uma leitura de que o mundo ia acabar. Essa é uma expectativa que acontece a cada data mais redonda ou por outros pretextos. Em São Bento até hoje lembro o medo domundo acabar, quando deramuma data para isso. A cidade inteira ficou em polvo‐ rosa esperando o dia. O antídoto era fazer atrás das portas cruzes de carvão. Todas as casas as fizeram. Na data marcada eu não largava minha mãe, agarrado em sua saia, para que acabássemos juntos. Na véspera eu não dormi. E o mundo não acabou! O único a não acreditar foi o sacristão da Igreja de São Bento, Pituca, que era ga‐ go, e saía pela rua dizendo: “O Senhor São Bento não vai deixar omundo acabar. Reze para ele. O mundo só vai acabar quando o sol secar.” Ele foi o antecessor da ciência moderna, que prevê o fim da “sequência principal” do Sol para daqui a 5,4 bilhões de anos, quando se converterá numa estrela gigante ver‐ melha, e chegará o fim da Terra. Mas surgirão outros mundos e a Eternidade irá em frente. Acostumei‐me coma notícia de que omundo vai aca‐ bar. Enquanto isso não acontece, vamos saudar a vida, commuitas esperanças e felicidades ao povomaranhen‐ se. E salve o profeta Pituca! ● Revista DIÁRIO - Abril 2015 - 23 Senador daRepública JoséSarney ARTIGO Quando muda o Calendário, a gente é levado a pensar quando começou a contagem dos anos. Houve no passado muita especulação de quantos anos tinha o mundo. Surgirão outros mundos e a Eternidade irá em frente coma Humanidade cheia demuitas esperanças e feliz. Otimismo ➹ Ex-presidente do República, senador pelo Amapá, membro da ABL e da Academia de Ciências de Lisboa;escreve no Diário do Amapá, todos os domingos A Eternidade

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