Revista Diário - 5ª Edição - Abril 2015
F eijão explica que semedidas eficazes e rápidas não foremadotadas a tendência do rio Araguari, coma agravante da construção de mais hidrelétricas, é perder o que tinha demelhor, amusculatura fluvial mar‐ cada por bom volume de água e velocidade produzida por suas cachoeiras e corredeiras. “Digo que as hidrelé‐ tricas praticamente diminuíram a capacidade do Ara‐ guari de enfrentar comvelocidade o seu percursomédio e baixo até à foz. Pegamos umrio volumoso e viril, e pra‐ ticamente paramos a velocidade dele. A partir de Porto Grande perde as características de rio e se tornará lago. A relação física de rio como seu leito e como Amazonas já sofreu mudanças que farão nossa omissão ser lem‐ brada de forma criminosa. Quando o rio perde força, vira lago, e o mar passa a ser seu senhor. Com medidas efi‐ cientes e céleres essa transformação quase apocalíptica ainda poderá ser mitigada”, alerta. Gesiel Oliveira, tambémgeólogo, em texto publicado em blog sobre o assoreamento da foz do rio Araguari e o fim da pororoca, diz: “O rio Araguari é o maior em vo‐ lume de água, largura e extensão do Amapá, mas o as‐ soreamento diminuiu tanto a profundidade do rio que hoje não é mais possível se ver a pororoca. Omunicípio de Cutias do Araguari é conhecido mundialmente pela pororoca e, por causa disso, tem atraído turistas de vá‐ rias partes do mundo, mas atualmente enfrenta esse problema ambiental gravíssimo que poderá acabar de‐ finitivamente com a pororoca nessa região”. A pororoca que havia na região, considerada a maior onda em ex‐ tensão do mundo, hoje só pode ser surfada às margens da ilha do Maracá e rio Livramento, no município de Amapá. De acordo com estudos que envolvem órgãos como Sema, Iepa, Embrapa e Imap, o surgimento do ca‐ nal chamado Canal do Araguari, impossibilita a entra‐ da de água do oceano Atlântico no continente, impe‐ dindo que a pororoca ganhe força. Em consonância com o entendimento do geólogo Feijão, as pesquisas mostram que o fenômeno é resultado da soma da im‐ plantação de usinas hidrelétricas, criação extensiva de búfalose das mudanças climáticas, fatores que causam graves consequências para a região, entre elas a salini‐ zação do rio Araguari. “Hoje só podemos ver a pororoca em algumas re‐ giões do Bailique. Há equipes do Ibama comumhelicóp‐ tero, monitorando a região, mas só milagre pode rever‐ ter o processo. A foz do Araguari está obstruída; a vazão de água fez pequenos varadouros se transformaremem enormes canais, permitindo entrada de água salgada no rio. Estima‐se que há cerca de 230 mil búfalos no Ama‐ pá, grande parte nessa região, e o crescimento desorde‐ nado do rebanho acelera o problema. O mais preocu‐ pante é a omissão do estado e do governo federal, que não fazemplano conjunto para tentarminimizar os efei‐ tos sociais, econômicos e ambientais desse fenômeno”, afirma o texto de Gesiel. ● Ambiente Revista DIÁRIO - Abril 2015 - 36 Assoreamento diminui profundidade do rio
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