Revista Diário - 5ª Edição - Abril 2015

Revista DIÁRIO - Abril 2015 - 79 dívidas milionárias. A empresa nega que tenha hipote‐ cado a estrada de ferro para um banco italiano de quem fez um empréstimo de R$ 136milhões. Alémdis‐ so, a Zamin enfrenta ações trabalhistas na Justiça e ain‐ da mantémdiálogo com as famílias dos operários mor‐ tos no acidente. Antes do desabamento, Pedra Branca do Amapari chegou a ter a quinta maior economia entre os 16 es‐ tados, relacionado ao Produto Interno Bruto (PIB). Em 2012, o IBGE revelou que omunicípiomovimentava R$ 269,9 milhões em riquezas por ano. VIÚVAS DO PORTO O dia 28 de março se tornou uma data que, além de marcar a derrocada da economia mineral no Ama‐ pá, passou a ser um dia de reflexão e luta pela manu‐ tenção dos direitos de seis famílias atingidas direta‐ mente pela tragédia que matou seis trabalhadores no porto de Santana. Somente quatro corpos foram localizados pelas equipes de resgate. Dois permanecem sepultados sob os escombros no fundo do rio Amazonas. Passados dois anos, as seis famílias ainda não con‐ seguiram superar a dor da perda. No entanto, buscan‐ do retomar a vida, essas pessoas (viúvas e órfãos) ten‐ tam fazer cumprir o acordo proposto pela empresa An‐ glo há época, mas que segundo elas não foi cumprido em sua totalidade. Dois anos após a tragédia as chamadas, ‘viúvas do porto’, quebraram o silêncio durante entrevista inédita à Revista Diário, relatando como essas famílias estão vivendo hoje. Elas foram unidas pela tragédia. Roseane Quintela, esposa de Pedro Coelho Ribeiro, 35 anos, que foi o quarto e último trabalhador a ter o corpo resgatado do fundo do rio, afirmou que a empre‐ sa suspendeu os planos de saúde das famílias e o auxí‐ lio educação. Eles pagaram apenas parte das indeniza‐ ções também, segundo ela. “Cerca de sete meses após o acidente a empresa nos chamou para um acordo. Na verdade eles queriam que nós não movêssemos ações judiciais. Ficou acordado o pagamento das indenizações e a manutenção do plano de saúde por mais cinco anos, além da garantia do au‐ xílio educação até a formatura de nossos filhos na fa‐ culdade. Só que isso não foi cumprido. Nosso maior er‐ ro foi ter confiado na palavra dos diretores, já que eles não quiseram assegurar isso em contrato formal. Po‐ rém, tudo foi registrado em vídeo”, diz Roseane. Ao anunciar a saída do estado, a Anglo repassou a gerência de todos seus negócios para a empresa Zamin. “Assim que a Zamin assumiu os negócios os benefícios foram de imediato suspensos. Agora surge a informa‐ ção de que a Zamin também vai deixar o estado. E, nós? Como ficaremos? Para se ter uma ideia as carteiras de trabalho de dois desses trabalhadores mortos sequer foram dadas baixa. As famílias não conseguiram rece‐ ber nenhumbenefício porque para oMinistério do Tra‐ balho eles continuam vivos”, acrescentou. “Resolvemos quebrar o silêncio porque não supor‐ tamos mais aguentar essa situação que se torna ainda mais humilhante. Espero que a direção da empresa possa resolver tudo isso para que sigamos nossas vidas dignamente. É omínimo que se espera. Nossos esposos morreram em pleno exercício do dever, então é justo que isso seja reparado”, concluiu Roseane. ●

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