Revista Diário - 6ª Edição - Maio 2015
O rio subterrâneo, que de acordo com especialistas possui a mesma extensão do rio Amazonas, e se encontra a quatro mil metros abaixo da maior ba‐ cia hidrográfica do mundo, nasce no Peru, mais exata‐ mente na Cordilheira dos Andes, mesma região da fonte do rio Amazonas. “Essa linha de água permanece sub‐ terrânea desde sua nascente, só que não tão distante da superfície. Tanto que temos relatos de povoados daque‐ le país, instalados na região de Cuzco, que utilizam este rio para agricultura. Eles sabem desse fluxo debaixo de terrenos áridos e por isso fazem escavações para poços ou mesmo plantações”, afirma o pesquisador indiano Valiya Hamza, do Observatório Nacional, cujo nome foi atribuído ao rio. O fluxo da água deste rio segue na vertical, sendo drenado da superfície até dois mil metros de profundi‐ dade. Depois, próximo ao estado do Acre, o curso fica na horizontal e segue o percurso do rio Amazonas, no sentido Oeste/Leste, passando pelas bacias de Soli‐ mões, Amazonas e Marajó, até adentrar no oceano Atlântico. “A água do Hamza segue até 150 quilômetros dentro do Atlântico e diminui os níveis de salinidade do mar. É possível identificar esse fenômeno devido aos sedimen‐ tos que são encontrados na água, característicos de água doce, além da vida marinha existente, com peixes que não sobreviveriam em ambiente de água salgada”, afirma o geólogo amapaense Antônio da Justa Feijão, da Amazon Global. O especialista garante que, com base nos levanta‐ mentos feitos e de acordo com as características geoló‐ gicas da região, o rio possui cerca de seis mil quilôme‐ tros de comprimento e entra no oceano Atlântico pela mesma foz que vai do Amapá até ao Pará. “A descoberta foi feita a partir de análises da temperatura de 241 po‐ ços profundos perfurados pela Petrobras nas décadas de 1970 e 1980. A temperatura no solo é de 24 graus Celsius constantes. Porém, quando ocorre a entrada da água, há uma queda de até 5 graus Celsius. Foi a partir desse ponto que começaram a ser desenvolvidos estu‐ dos sobre o fenômeno. Eu garanto que esse pode ser o maior rio subterrâneo do mundo”, pontua Feijão. “Não é um aquífero, que é uma reserva de água sem movimentação. Os estudos realizados mostram que há movimentação de água, ainda que lenta, pelos sedimen‐ tos”, explica o geólogo, ressaltando que, apesar de ser um rio subterrâneo, sua vazão (quantidade de água jor‐ rada por segundo) é maior que a do rio São Francisco, que corta o Nordeste brasileiro. “A velocidade de curso desse rio subterrâneo é menor, porque o fluxo de água tem que vencer as rochas existentes a quatro mil me‐ tros de profundidade. Enquanto o Amazonas corre a dois metros por segundo, a velocidade do fluxo subter‐ râneo é de cem metros por ano”, atesta. ● Revista DIÁRIO -Maio 2015 - 23 Não é umaquífero, reserva de água, mas umcurso de água emmovimento. Vida ● Aquatro milmetros de profundidade, existe o rioHamza, percorrendo emtornode seismil quilômetros, até desaguar no oceanoAtlântico.
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