Revista Diário - 6ª Edição - Maio 2015
A maternidade se inicia muito antes da concepção, é um pro‐ cesso que vai sendo construí‐ do ao longo da vida, desde as primei‐ ras relações e identificações da mu‐ lher, passando pela atividade lúdica infantil , a adolescência, o desejo de ter filho e a gravidez. Estudiosos acreditam que a gestação é uma pre‐ paração para a maternidade, onde a mulher vai deixando a condição de filha para a condição de mãe. E as‐ sim, ocorre uma reestruturação na vida da mulher e nos papéis que ela exerce. Com a chegada do filho, coi‐ sas precisam ser revistas, como o reajuste da vida conjugal, suas ativi‐ dades profissionais e individuais, es‐ pecialmente quando a mulher expe‐ rencia a primeira maternidade. Não que as demais não exijam renúncias. Várias mudanças ocorrem – bio‐ lógicas, somáticas, psicológicas e sociais. Influenciando na dinâmica psíquica individual e nas demais re‐ lações sociais da gestante. Portanto, a maneira como ela vive essas mu‐ danças repercute na constituição da maternidade e na relação mãe/be‐ bê. Quando falamos em maternida‐ de, citamos Winnicott, que diz que a maternagem vai além dos cuida‐ dos dispensados ao bebê pela mãe ou cuidadora deste. Segundo ele, o bebê não existe sozinho – é parte de relação que, além de abrangê‐lo, en‐ globa a cuidadora. Essa deverá criar um ambiente facilitador para que o desenvolvimento psíquico da crian‐ ça seja saudável. Todos os fatos que ocorrem no período de vida intrau‐ terina são registrados inconsciente‐ mente pelo sujeito que está sendo gerado. O feto pode vir a sofrer frente à angústia ou ansiedade da mãe e tentar, como mecanismo de defesa, diminuir esse sofrimento através de movimentações hiperati‐ vas de seu corpo ou de diminuição de suas atividades motoras. Essas vivências intrauterinas influencia‐ rão sua personalidade e seus com‐ portamentos na vida pós natal. Daí a necessidade de se criar um am‐ biente para a chegada do filho. Quando o bebê nasce, a relação mãe e filho é de dependência abso‐ luta: o recém nascido precisa de sua cuidadora para alimentá‐lo, vesti‐lo, nomear suas sensações e os objetos de seu mundo externo. Esse vínculo forma o alicerce para o seu desenvol‐ vimento psíquico, fazendo com que seu frágil ego seja amparado pelo ego materno e se fortaleça. É a partir da organização psíquica desenvolvi‐ da nessa relação que o bebê conquis‐ tará sua capacidade de se relacionar. A qualidade do amor materno, não a quantidade, determinará a qualidade de todas as relações do in‐ divíduo quando ele se desligar da mãe: amor em excesso e possessivo pode gerar dependência, inseguran‐ ça e incapacidade desse sujeito em lidar com frustrações. Negligência e rejeição podem provocar angústias, necessidade exagerada de amor, agressividade, culpa e depressão. Percebe‐se quão importante é a mãe se cuidar para a chegada do filho es‐ perado; esses cuidados requerem saúde física, psicológica e emocional, para que não projete no filho suas carências afetivas, dando‐lhes tudo em excesso, como forma de preen‐ cher seu próprio vazio. Pode aconte‐ cer o contraponto da gravidez na adolescência, a gravidez indesejada, onde a visão de que os cuidados com os filhos são árdua tarefa e cerceiam sua liberdade. São algumas das pos‐ síveis razões para a negligência ma‐ terna. Dessa forma, que nem o exces‐ so nem a falta, mas o equilíbrio, onde a maternidade responsável deve proporcionar ao feto e, depois, ao be‐ bê, um vínculo afetivo sadio. Deve também evoluir para um processo de independência emocio‐ nal, que gerará confiança na criança e facilitará seu crescimento psíquico, para que possa se suportar sozinha e evoluir para a maturidade e auto‐ nomia. Não existe receita perfeita para o incrível papel que só as mu‐ lheres podem exercer, Mãe. Mas de certo, que procurar informar‐se, ins‐ truir‐se vai tornar tudo mais fácil. Músicas procuram cantá‐la da forma mais profunda. Poetas, procu‐ ram descrevê‐las de forma intensa, como Quintana que diz assim: São três letras apenas, As desse nome bendito: /Três le‐ trinhas, nada mais... /E nelas cabe o infinito/ E a palavra tão pequena/‐ confessam mesmos os ateus ‐/És do tamanho do céu/E apenas menor do que Deus. ● Riqueza CláudiaOliveira Psicóloga clínica Mãe Tanto amaioria dasmulheres, quanto a sociedade projeta namaternidade uma das tarefasmais importantes. Afinal, gerar outro ser humano é algo divino, é oportunizar a continuação da espécie, bemcomo namaioria das vezes, uma realização pessoal. Consultório Psiqué Avenida FAB, 1070- Sala 306 Edifício Macapá Office 98127-0195 Revista DIÁRIO -Maio 2015 - 5 Comportamento
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