Revista Diário - 6ª Edição - Maio 2015
A ssimcomo aconteceu e acontece coma iniciativa pri‐ vada, em vez de conter o avanço da degradação o próprio governo do estado se encarregou, através do Iapen (Instituto de Administração Penitenciária do Ama‐ pá), denominação do presídio local, de prosseguir no abate criminoso da Lagoa: há muito tempo as fezes, dezenas de toneladas, demais trêsmil pessoas foramcanalizadas para o leito da Lagoa, consolidando, de forma criminosa, sua uti‐ lização como uma das maiores fossas de excrementos hu‐ manos existentes em todo o estado. Acionados, os órgãos ambientais e a Assembleia Legis‐ lativamandaramrepresentantes ao local, que constataram a prática do crime. Para remediar a situação, o governo está construindo fossas para receber as fezes do presídio, o que, na opinião de especialistas da área ambiental, não vai re‐ solver o problema, porque inexoravelmente fezes e urina continuarão sendo despejadas na Lagoa pelos moradores das ocupações irregulares do entorno, incluindo o Iapen, considerando que os dejetos permanecerão chegando ao leito da Lagoa, pelo subsolo. De acordo com o geólogo Antônio Feijão, da Amazon Global, a Lagoa dos Índios está sentenciada à morte: “Ima‐ gine um bairro com uma população de mais de três mil pessoas jogando fezes numsó local, semqualquer fluxo pa‐ ra outros locais, já que seccionaramo curso d’água daquele manancial? E isso considerando só o que sai do presídio! Os excrementos já são visíveis a olhos nús, imagine o que acontece nos lençóis freaticos! A Lagoa dos Índios, lamen‐ tavelmente, está contaminada, transformaram aquele pa‐ raíso num depósito de fezes”, lamenta. Apesar da realidade caótica, na cabeceira da ponte que atravessa a Lagoa dos Índios, na rodovia Juscelino Kubits‐ chek, uma placa oficial da Secretaria de Estado do Meio Abiente (Sema) indica que a água é “própria”, isto é, ali se pode tomar banho e pescar, liberando, também de forma criminosa, o pescado – que ainda se encontra na Lagoa – para ser consumido pela população. Apesar de toda essa agressão, a Lagoa dos Índios ainda pode ser salva. Segundo Antônio Feijão, há necessidade de uma intervenção “imediata” doMinistério Público, através da Promotoria do Meio Ambiente, das Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, Câmara Municipal, OAB (Ordemdos Advogados do Brasil) e órgãosmunicipais Estuárioecológico se transformou em depósitode fezes Revista DIÁRIO -Maio 2015 - 77 impactos ambientais, a Prefeitura está construindo um conjunto habitacional”. Mas não é só isso. A geografia da Lagoa é abrangida, ainda, pelos bairros Marabaixo, de I a V, Lago da Vaca e Cabralzinho. Todos esses locais que hoje abrigam de‐ zenas de milhares de moradores faziam parte da Lagoa dos Índios, cuja ocupação aleatória foi reduzindo a sua extensão, além de contaminar com excrementos huma‐ nos e lixos domésticos o pouco que restou. “No seu en‐ torno mais íntimo, um ambiente inóspico termina de abater a Lagoa dos Índios. Dejetos, inclusive incontá‐ veis toneladas de fezes humanas são atirados no local pór moradores de condomínios, de faculdade, como a Fama, que canalizou o seu esgoto para a Lagoa, lojas e concessionárias de veículos e, o mais grave: o surgi‐ mento de vários condomínios e loteamentos por trás do conjunto Cabralzinho, que não deveriam ter licen‐ ciamento sem a apresentação e solução para o esgoto”, denuncia. ●
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