Revista Diário - 6ª Edição - Maio 2015

Revista DIÁRIO -Maio 2015 - 80 D esde os primeiros contatos com os europeus, via Pinzon, em 1500, as etnias setentrionais convive‐ ram com as pressões da colonização volátil por aptidão mercantilista e sofreram com o “branqueamen‐ to” cultural e a “destribalização” operada pelos jesuítas. Desde os tucujus, tidos como os autóctones etéreos do Amapá na era “Pré Pinzônica”, diversas etnias pon‐ tuaram pelas terras do Amapá e chegaram ao século XXI divididas em 49 aldeias registradas pela Fundação Na‐ cional do Índio (Funai). Apalaí, Galibi, Karipuna, Kaxuya‐ na Palicur, Tiriyó, Wayana e os Waiãpi, além de outras nações, persistem na luta pelo respeito aos seus direitos fundamentais entre apelos preservacionistas e flertes com a modernidade tecnológica. Entre “amaziamentos”, epidemias, sevícias, estu‐ pros e genocídios os indígenas coabitavam com os co‐ lonizadores o mesmo chão que sexualmente se afirmou miscigenado. Com a Independência, a realidade dos indígenas do Amapá pouco mudou, à exceção de alguns episódios destoantes como ‐ para ficar em apenas dois exemplos ‐ a expedição do Marechal Rondon, pioneiro na demar‐ cação de terras indígenas e criador do Serviço de Pro‐ teção ao Índio (SPI), embrião da Funai, e o trabalho dos irmãos Villas Bôas (Orlando, Cláudio e Leonardo), ar‐ tífices da política nacional de proteção aos índios, do Parque Indígena do Xingu e da própria Funai. Entre cursos d’água curtos ou extensos, com diferen‐ tes línguas e dialetos, os índios se afirmam. Os karipunas no vale do Uaçá com quatro aldeias (Manga, Espírito Santo, Santa Isabel e Açaizal) e dez localidades a elas li‐ gadas; na BR 156, a Nação Kariruna é representada pe‐ las tribos Piquiá, Curipi e Estrela; no rio Oiapoque, ela reside com as aldeias Ariramba, na reserva Galibi, e Ku‐ nanã, na área do Juminã. Os palikurs se distribuem nos dois lados da fronteira Brasil‐Guiana Francesa, em dez aldeamentos, entre os quais os kumenês, flechas, puway‐ tykest, kamoywas, tawarys, monges e os urubus. Poli‐ glotas, assim como seus similares da Guiana, os galibis do Oiapoque desenvolveram a versatilidade linguística, dedicando o português aos contatos extratribais, o fran‐ cês e o holandês commenor domínio. Muitos vivem fora de seus núcleos e até mesmo em outras unidades fede‐ rativas. Parte da população atua no funcionalismo pú‐ blico e, dentre todas as etnias, é a que melhor dinamiza formas de intercâmbio com outros grupos e com os se‐ tores institucionais que assistem suas tribos; os Galibi Marworno do Uaçá vivem nesse vale desde os anos 1940, na reserva Kumarumã, e possuem uma população heterogênea, resultante da miscigenação com outros po‐ vos do Amapá e da Guiana Francesa. A denominação Marworno é um componente linguístico para diferen‐ OAmapá é o estado brasileiro onde as terras indígenas são demarcadas e onde as ameaças do capitalismomonopolista sãomínimas, considerando a condição emque se encontramos índios do restante do país. Entretanto, até chegar ao estágio atual, esses grupos não conhecerampolíticas inclusivas e não exerciamde fato a cidadania. Índios doAmapá: condições histórica, política e sociocultural Texto: Célio Alício História

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