Revista Diário - 7ª Edição - Junho 2015

U ma das questões mais recorrentes e de‐ safiadoras no Brasil, além da corrupção, é a violência. Quando temos a oportuni‐ dade de sair do país e observar outras culturas passamos a raciocinar de outra forma e ver o quanto se sentir seguro é fator substancial para felicidade. Instigou‐me essa reflexão o fato de estar no exterior e, no local onde fui, por uma semana in‐ teira a mídia se pôs a divulgar o caso de um se‐ nhor que após uma partida de futebol apanhou da polícia na frente do filho. O caso de tão incomumnaqueles lados, ocu‐ pou os noticiários, levando inclusive as autori‐ dades locais serem ouvidas sobre as providên‐ cias que seriam tomadas, sem falar nas mesas redondas e opinião de diversos especialistas so‐ bre essa violência policial. No Brasil isso é um fato corriqueiro, sem fa‐ lar das mais diversas formas de violência que são por nós vividas. Conversando com um ami‐ go médico ele me atualizou dos assuntos trata‐ dos na imprensa brasileira e me explicou que um médico tinha sido cruelmente assassinado no Rio, quando andava de bicicleta e em ne‐ nhummomento reagiu ao assalto. E aí nos pegamos dando conselhos para os filhos e amigos: olha, em caso de assalto não reaja, en‐ tregue seus bens. Saímos de casa, alémde todos os riscos inerentes de uma cidade, não sabendo o que nos vai acontecer. Qual a principal causa de tudo isso? Pergun‐ to‐me. São inúmeras e já foram estudadas por diversas pessoas e pesquisadores, sob todas as óticas que se possa imaginar. Enfrento aqui uma que talvez poucos tive‐ ram a coragem de abordar. Será que o nosso país e nosso Amapá não estão carentes de soli‐ dariedade e valores morais? A vida humana passou a ser ceifada por um celular, uma bicicleta, uma briga de trânsito. A intolerância é a regra e o respeito a exceção. Podem ser criados novos presídios de segu‐ rança máxima, equipada a polícia com o que de melhor há em termos de tecnologia, câmeras vi‐ gilantes nas ruas, chips incrustados nos réus, to‐ davia, se tudo isso não vier revestido de valor, de nada adianta. Dentro do conceito de solidariedade pode‐ mos colocar o respeito ao próximo e, sendo as‐ sim, a vida e o patrimônio recebem noções va‐ lorativas bemmais pertinentes. Nenhuma sociedade evolui se esse velho conceito não for restaurado. Ressalto que não estou afirmando que crimes e violência não ocorrem lá fora. O que questiono é a ótica ho‐ mem coletividade: pra conter a violência tam‐ bém é preciso o olhar de respeito ao outro! Levar vantagem em tudo, definitivamente, não nos faz melhor. Fico tão encantada quando esquecemos algo emumamesa de um café, por exemplo e, minutos depois, voltamos ao local e a coisa está domesmo jeitinho que a deixamos! Essa é a educação para a vida. Vivemos sob a ótica de ummodelo social emque ser honesto e respeitador é a exceção. O que sobra pro bon‐ zinho é ir para o céu, nessa sociedade tão indi‐ vidualista. Temos que começar a mudar isso... ● Revista DIÁRIO - Junho 2015 - 21 Juízadedireito ElayneCantuária ARTIGO Fico tão encantada quando esquecemos algo em uma mesa de um café, por exemplo e, minutos depois, voltamos ao local e a coisa está do mesmo jeitinho que a deixamos! Levar vantagem em tudo, definitiva- mente, não nos faz melhor. Elayne Cantuária, Juíza e articulista do Jornal Diário do Amapá e Revista Diário Questão de respeito ao outro

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