Revista Diário - 7ª Edição - Junho 2015
Revista DIÁRIO - Junho 2015 - 64 O s cemitérios estão localizados em pontos extremos: São José, no bairro Buritizal (zona sul), Nossa Senho‐ ra da Conceição (Centro) e São Francisco de Assis (km9daBR210), sendo que os dois primeiros não dispõem mais de espaço disponível, tanto que neles só são sepulta‐ das pessoas cujas famílias são proprietárias de lotes, segun‐ do informações do Departamento de Administração de Lo‐ gradouros e Cemitérios (Dalc). Já o cemitério São Francisco de Assis, embora com poucos lotes disponíveis, ainda per‐ manece ativo, mas logo tambématingirá o limite, por conta da grande demanda de Macapá e de outros municípios vi‐ zinhos, como Santana, por exemplo, que por não mais ter cemitérios ativos, os seus mortos são sepultados no local. Levantamento do Dalc aponta que no cemitério Nossa Senhora da Conceição há mais de oito mil corpos sepulta‐ dos, apesar de possuir apenas trêsmil lotes; no São José são 26mil lotes emais de 60mil sepultados; o São Francisco de Assis, que dispõe de oitomil lotes, já recebeumais de 17mil sepultamentos. Comtantos corpos sepultados emMacapá, especialistas não têm a menor dúvida de que a contaminação das águas subterrâneas é uma realidade preocupante, por conta do necrochorume, líquido eliminado pelos corpos no primeiro ano de sepultamento. O precursor de estudos nessa área, geólogo LezíroMarques Silva, que pesquisa o assunto desde 1970, percorreu seiscentos cemitérios municipais e parti‐ culares em todo o Brasil: “Em cerca de 75%dos cemitérios públicos há problemas de contaminação e, nos particulares, o índice é de 25%”. O pesquisador explica que o cadáver de um adulto, pe‐ sando emmédia 70 quilos, produz cerca de 30 litros de ne‐ crochorume emseu processo de decomposição. “Esse líqui‐ do é composto por 60% de água, 30% de sais minerais e 10%de substâncias orgânicas, entre as quais algumas bas‐ tante tóxicas, como a putrefina e a cadaverina: um meio ideal para a proliferação de substâncias responsáveis pela transmissão de doenças infectocontagiosas, entre elas a he‐ patite e a poliomielite”, alerta. Emrazão dessas características peculiares, essesmicro‐ organismos podem proliferar num raio superior a quatro‐ centos metros do cemitério. Lezíro Silva afirma que o ne‐ crochorume é facilmente absorvido pela água e, por isso, a contaminação é problemática, principalmente nos locais onde o abastecimento se dá por poços ou cisternas, siste‐ mas isolados de água que proliferam emMacapá: “Além da contaminação, amá localização dos cemitérios é outro fator de dificuldade, pois o estado inalterado de alguns corpos, a exemplo da ocorrência de fenômenos como a saponificação (o corpo não se decompõe, nos locais onde o terreno é úmi‐ do, e a mumificação, em locais de solo arenoso, obrigam a expansão da área, o que ganha contorno dramático nasmé‐ dias e grandes cidades”. ● Contaminaçãode lençóis freáticos doAmapápreocupa especialistas Texto: Ramon Palhares. Fotos: Samuel Silva e Elson Summer Os lençóis freáticos dos 16municípios amapaenses podemestar comprometidos, principalmente os da capital, Macapá, que, com 446.757 habitantes, de acordo como Censode 2010do IBGE (InstitutoBrasileirodeGeografia e Estatística), possui apenas três cemitérios oficiais, todos apresentando superlotação, de acordo coma prefeitura. Capa
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