Revista Diário - 7ª Edição - Junho 2015
F oi no bairro do samba e do amor, o Laguinho, que Be‐ nedita Guilhermina Ramos, a “Tia Biló”, abriu as por‐ tas de sua casa para exalar o cheiro, as cores e os sons das caixas deMarabaixo. A festa e a tradição estavamman‐ tidas e com isso a família também cresceu. Vieram as dan‐ çadeiras, tocadores de caixas e os poetas doMarabaixo pa‐ ra colorir ainda mais a vida daquela senhora que recebia a todos comum sorriso no rosto sempre bemmaquiado, ca‐ belo ornado por flores e água de colônia que inundava o frescor de vida feliz. Essa era e continua sendo a Tia Biló! A matriarca sente orgulho de ter sido “mão de ferro” nos últimos 70 anos, quando di‐ vidiu seu tempo em trabalho, dentro e fora de casa, criação de filhos, netos, bisnetos e agregados e o prazer de carregar o leve peso de man‐ ter acesa a tradição dos feste‐ jos do Marabaixo. Durante as últimas cinco décadas, foi ela quem cuidou de cada deta‐ lhe para festejar e agradecer ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade, heran‐ ça recebida de seus ances‐ trais. Com a bandeira dos an‐ jos do Marabaixo, a matriarca da família Ramos recebia e rece‐ be até hoje, flores, fogos, cheiros, senhoras, crianças, sons e ritmos afros, no imenso pátio de sua casa. É o Ciclo doMarabaixo se perpetuando, e fazendo feliz a imensa legião de orgulhosos mantenedores da cul‐ tura amapaense. Isso a deixa feliz e a faz recordar do dia emque ouviu do pai, dias antes de suamorte, a frase: “Não deixe oMarabaixomorrer”. Hoje ela faz aos netos omesmo pedido de seu pai. Filha de Julião Tomás Ramos, o Mestre Julião, Tia Biló é a referência de mulher guerreira, que luta pelo que acredita ser o certo e não guarda mágoa nem dissabores das rasteiras que a vida lhe pregou. Nem quando foi “convidada”, ainda mocinha, junto com seus pais e irmãos a deixar a casa em que moravam na Vila Santa Ingrácia, localizada em frente à cidade de Macapá, ho‐ je Praça Barão do Rio Branco, porque naquele terreno se‐ riam construídas casas para os governantes e funcioná‐ rios do alto escalão do ter‐ ritório federal do Amapá. Nem tão pouco criou ódio no coração quando foi abandonada pelo marido, Geraldo Lino da Silva, o qual vendeu a casa do casal com ela e os sete filhos dentro. ● TiaBiló, matriarca do Marabaixo doLaguinho Gente Texto: Tica Lemos Foi numa casa simples,mas revestida demuito amor, que amais importante dama do ritmo negroda cultura amapaense criou seus sete filhos e fez desse pequeno espaço o ninho acolhedor de várias gerações da famíliaRamos. Revista DIÁRIO - Junho 2015 - 8
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