Revista Diário - 7ª Edição - Junho 2015

A criação do Território Federal do Amapá (TFA), em 1943, apontava, a princípio, para umhorizonte pro‐ missor, e a exploraçãomanganífera pela Bethlehem Steal e Icomi, na Serra do Navio, atraiu os olhares e tentá‐ culos do capitalismo internacional para o Amapá que, gra‐ ças à “pedra negra”, finalmente adentraria no curso desen‐ volvimentista. Pura ilusão. Nos anos 1980 e 1990, o projeto definhou. O eldorado negro deixou uma imensa cratera na região serrana e um “carreirão” de mazelas sociais e desgraças ambientais co‐ mo espólio damineração para os amapaenses. Como TFA, Macapá, Mazagão e Amapá foramdesmembrados do Pará para formar seu território, e junto com Oiapoque, criado em 1945, e Calçoene, em 1956, completaram a formação que cresceria em 1987, quando os distritos de Santana, Ferreira Gomes, Tartarugalzinho e Laranjal do Jari foram transformados em municípios. Dois anos antes, os ama‐ paenses elegeram pelo voto direto os primeiros prefeitos municipais – até a criação do TFA, existiamas intendências cujos alcaides eram eleitos pelo voto. Até 1985, os prefeitos eramnomeados pelo governador era nomeado pela presidência da república. Em1992, após plebiscito determi‐ nado pela Constituição Estadual pro‐ mulgada um ano antes, surgiram Ser‐ ra do Navio, Pedra Branca do Amapa‐ ri, Cutias, Porto Grande, Pracuúba e Itaubal do Piririm; e, em 1994 com a criação do município de Vitória do Ja‐ ri, desmembrado de Laranjal do Jarí, o mapa amapaense atingiu seu con‐ torno atual. O Amapá era tutelado e sustentado economicamente pela União que arcava com as despesas de todos os municípios, embora os investi‐ mentos no crescimento econômico planejado e na redu‐ ção da dependência em relação ao governo federal não fossem as demandas de mais urgente resolução, apesar de toda a riqueza mineral que era explorada e que enri‐ quecia grandes empreendimentos nacionais e estrangei‐ ros. Para os observadores mais atentos, não foi surpresa quando a Constituição Federal promulgada em1988 ele‐ vou o velho território à categoria de estado quase que to‐ talmente desprovido de vestes políticas, econômicas e sociais condizentes. A constatação que se chega ao analisar a história dos municípios do Amapá é que os quintais de dentro obvia‐ mente cresceram em termos populacionais, sobretudo após a conquista da autonomia política, mas permane‐ ceram estáticos e encolhidos, letárgicos, com o desenvol‐ vimento econômico atrofiado com dramas ambientais, problemáticas sociais em contraste com suas molduras paisagísticas, ecossistemas e um fan‐ tástico tesouro cultural e religioso. Sem industrialização e buscando a subsistência com a agropecuária, a exploração vegetal, o setor pesqueiro e o rico potencial turístico. Singulari‐ dades históricas e peculiaridades na exuberante natureza face aos arreme‐ dos de urbanidade, pulsando no cora‐ ção das matas, nas terras da Costa Norte. Este é o Amapá à deriva com destino incerto. A previsão do tempo aponta para tempestades e trovoadas no horizonte paradisíaco. ● Revista DIÁRIO - Junho 2015 - 81 M azagão foi criado em 1770, a par‐ tir da atual Mazagão Velho, para abrigar colonos portugueses transladados do atual Marrocos para a Amazônia. Em 1915 a sede municipal foi transferida para a cidade de Mazaganópo‐ lis (atual Mazagão Novo). O município de Amapá nasceu a partir dos povoados de Cunani e Espírito Santo, no contexto do Contestado franco brasileiro. Com um ter‐ ritório que sempre despertou a cobiça es‐ trangeira pelo conteúdo inestimável de ri‐ quezas na fauna, flora e minérios, o Ama‐ pá pouco pôde alavancar e impulsionar um desenvolvimento que lhe garantisse mínima autonomia político‐econômica. ●

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