Revista Diário - 7ª Edição - Junho 2015

“ Tia Biló sempre acreditou que o dia de hoje é me‐ lhor que o de ontem, e amanhã será melhor que o dia de hoje. Devemos agradecer a vida, isso é sem‐ pre mais importante, diz ela até hoje”, lembra a neta Daniella Ramos, que foi criada pela avó, juntamente com mais 15 netos, e tem orgulho de dizer que foram as dores, necessidades, carências, medos e incertezas que fizeram daquela mulher de riso fácil e mãos firmes uma grande mãe de família. Era da cozinha da Tia Biló, onde os panelões fer‐ viam no fogo a lenha, que saíam os sabores que seriam servidos para a grande família e quem mais chegasse para saciar a fome, ou simplesmente jogar conversa fo‐ ra. Aquela linda senhora sempre tinha uma palavra sá‐ bia para confortar qualquer coração apertado. Assim a casa foi ganhando as cores e a amplitude que uma mo‐ rada de gente feliz requer. As flores bem cuidadas no pátio já desenhavam o tamanho do amor e respeito ao próximo que ali residia. E para alimentar as muitas bocas, o tradicional caldo de carne com muita verdura e tutano saiu do almoço de família e foi para as madrugadas dar sustância às dança‐ deiras, tocadores e a quemmais estivesse na roda de Ma‐ rabaixo. Mas como toda comida precisa de uma bebida para acompanhar a longa noite de festa, Tia Biló fazia questão de preparar muitos litros de gengibirra. A bebida mistura cachaça, gengibre e açúcar, o que garante energia a noite toda para quem consome. “Ela sempre foi quem fiscalizou tudo, desde o espaço para servir os convidados até se a quantidade era suficiente para manter os mara‐ baixeiros durante toda a noite, com bastante energia”, conta a neta Daniella, que hoje já não mora com a avó, mas a visita diária da tarde é sagrada para todos que fo‐ ram acolhidos e recolhidos no coração da matriarca. Desde 2005, Tia Biló vem enfrentando alguns proble‐ mas de saúde. Há dez anos perdeu a visão por conta de um glaucoma que se agravou porque ela se negou em fa‐ zer a cirurgia, ainda que a família e médicos amigos te‐ nham insistido. Mas quem ousa mudar uma cisma, uma desconfiança, um não, de uma senhora de 70 anos?. ● Revista DIÁRIO - Junho 2015 - 9

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