Revista Diário - 8ª Edição - Junho 2015

D e acordo com a narração do fundador Júlio Maria de Lombaerde, a Congregação das Filhas do Coração Imaculado “nasceu pequenina na humildade e na po‐ breza, sem intervenção nem de ricos nem de poderosos, inspirada na vida de Maria”. Na data de fundação ocorria a Festa da Apresentação de Maria. O pregador de missões populares, escritor e conferen‐ cista, padre JúlioMaria de Lombaerde, indagava a realidade social, cultural, econômica e religiosa da cidade deMacapá. Na época, algumas jovens desejavam ingresso na vida religiosa. As vocações surgiam assim como surgiu a neces‐ sidade de religiosas para amissão pastoral. O apelo pessoal de fundar uma congregação dera ao padre JúlioMaria a cer‐ teza de que a hora chegara. Muitas vezes o religioso falara de seu projeto para dom Amando Bahlman, bispo de Santarém (PA). Talvez perce‐ bendo a impossibilidade da criação de uma congregação no Amapá, Amando não interferiu nos planos do vigário. Persistente, Padre Júlio Maria marca com o bispo en‐ contro emBelémpara ultimar a fundação do Instituto Cor‐ dimariano. O bispo não aparece no horáriomarcado. O pa‐ dre ultima providências e por conta própria trata de orga‐ nizar a cerimônia de fundação. DomAmando toma conhe‐ cimento dos fatos e radicalmente a eles se opõe. Mas diplo‐ maticamente omissionário se justifica, afirmando ter que‐ rido somente a glória de Deus, e que se fosse da vontade do bispo diocesano, enviaria as candidatas de volta para suas famílias. Logo o bispo se acalma, reflete e afirma que, fechando os olhos à fundação Cordimariana, permitirá a obra e, no futuro, verá o que fazer. Finalmente, apósmuita persistência e diplomacia, estava fundada a sonhada congregação religiosa sob as bênçãos do papa Bento XV. ● Revista DIÁRIO - Julho 2015 - 11 Aobra Cordimariana P adre Júlio Maria de Lombaerde nasceu emWaereg‐ hen (Bélgica) no dia 8 de janeiro de 1878. Pais: José de Lombaerde e Sidônia Steelant. Foi atraído para a vida missionária quando assistia à Santa Missa. Antes de concluir seus estudos se fez “irmão branco” com o nome de irmão Optato Maria, tendo de‐ pois ido trabalhar na África. Em consequência de febres, retorna à Europa. Sentin‐ do‐se chamado ao sacerdócio, entra para a Congregação da Sagrada Família, fundada pelo padre Berthir, emGrave (Holanda). É ordenado padre em 13 de janeiro de 1908. Em 1912, quando pregava pela França, é chamado para cumprir missões no Brasil, mais precisamente na Ama‐ zônia, onde mais tarde chegaria para dedicar 15 anos de sua vida como missionário entre índios e caboclos. Diz a história que padre Júlio Maria foi um polemis‐ ta sem par, teólogo exímio, pregador admirável, escri‐ tor de renome. Em Macapá, além de pregador era para o povo conselheiro, conciliador, enfermeiro, médico. Teve sempre a sua pena e a rara inteligência a serviço da Igreja Católica. Através de seu jornal “O Lutador”, intitulou‐se o “terror dos hereges”. Chegou a ter atritos com evangélicos. Diz a memória oral que daqui os ex‐ pulsou em função de di‐ vergências dogmáticas, ne‐ gação aos santos e à Vir‐ gem Maria. Após toda a dedicação missionária no Amapá, a ta‐ refa do religioso foi mudada para Icoaraci, no Pará, on‐ de fundou o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em 1923. Depois, foi servir ao povo de Deus em Natal (RN). Ali, criou as congregações Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora (1928) e Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora (1929), além da Editora e o Jornal “O Lutador", ainda em 1928. Padre Júlio, incansável, foi designado para trabalhar em Minas Gerais, onde criou o Seminário Apostólico, Colégio Pio XII, Hospital‐Asilo São Vicente de Paulo (atualmente Hospital Padre Júlio Maria), o Patronato Agrícola Santa Maria (para acolhimento de órfãos e/ou crianças em situação de vulnerabilidade social) e a Es‐ cola Normal Santa Terezinha. Em 1944, véspera de Natal, ao regressar da Missa em Vargem Grande‐Alto do Jequitibá, terra mineira, chovia torrencialmente. Seu automóvel patina na estrada enla‐ meada e escorregadia, e segue desgovernado numa ri‐ banceira. O carismático, determinado e idealista missio‐ nário fica preso entre as ferragens do carro e uma árvore. Não resiste aos graves ferimentos e falece, deixando um dos mais ricos legados em terras brasileiras. ● Quemfoi padre Júlio?

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