Revista Diário - 8ª Edição - Junho 2015

trimestre havia mais de dois mil professores com licença prêmio, o que prejudicava o início do calendário escolar. Além, havia mais de duzentas contas do caixa escolar bloqueadas pela Justiça. Nos contratos que envolvem pessoas havia uma dívida da ordem de 75 milhões de reais. Erammerendeiras, vigilantes e pessoal de limpeza e conservação que não recebiam salário há mais de cinco meses. Diário – Um quadro bem ruim, convenhamos. Antônio Teles – Encontramos, também, salários e plantões atrasados, entre outros passivos de curto prazo. Diário – Situação periclitante. Antônio Teles – Veja mais: a folha de pagamento só era quitada no último dia do mês, provocando um grande desconforto ao servidor. Cabe lembrar, também, comparando o Amapá ao resto do Brasil, que quase oito estados estão pagando os seus servidores de forma parcelada. Diário – Quer dizer que as dificuldades encontradas pelo governo Waldez Góes foram de ordem eminentemente locais, sem influência da conjuntura nacional? Antônio Teles – Não. Existem dificuldades locais, porém o grande peso, hoje, é da conjuntura nacional. Diário – Em que sentido? Antônio Teles – As dificuldades locais dizem respeito aos problemas de gestão e de desmobilização das forças produtivas herdados do governo anterior. Diário – Quais as forças produtivas desmobilizadas, por exemplo? Antônio Teles – Os setores madeireiro, mineral, moveleiro, oleiro e cerâmico . Diário – Tudo isso somado à falta de perspectivas de se investir no estado... Antônio Teles – É verdade. O estado ficou numa situação em que praticamente nenhum investidor veio pra cá nos últimos anos em virtude dos empecilhos criados para a instalação de empresas no estado. Diário – Mas se vê, sim, empreendimentos empresariais no Amapá, secretário... Antônio Teles – Somente algumas redes nacionais se instalaram no estado, mas não tivemos mudanças significativas na estrutura produtiva da economia. Diário – E quais são os problemas gerados por fatores externos à administração pública amapaense? Antônio Teles – O primeiro deles é a frustração de receitas, ou seja, existe uma queda nas transferências constitucionais para o estado, o que faz com que o valor seja inferior ao orçamento previsto para este ano de 2015. Diário – Sim. Mas o estado não pode parar. Como o governo está agindo para administrar esta situação? Antônio Teles – Apesar desta conjuntura, temos tido sensível crescimento em relação ao de 2014, porém abaixo da inflação. Nas receitas próprias, é preocupante o comportamento do ICMS, uma vez que é possível que o ano seja encerrado com uma queda em relação ao valor do ano passado. Diário – À luz desta realidade do estado, como o senhor vê o país como um todo? Antônio Teles – O Brasil, hoje, está vivendo o paradoxo da desfaçatez. O país tenta corrigir problemas criados por ele mesmo. Acontece que passamos dez anos sem fazer reformas. Adotamos ummodelo de crescimento que privilegiou o consumo em detrimento do investimento. Esse modelo funcionou muito bem até à crise de 2008. A partir de então perdeu dinamismo e entrou em colapso após 2011. Hoje vivemos um cenário de queda na produtividade do trabalho, rigidez inflacionária e baixo crescimento. Revista DIÁRIO - Julho 2015 - 41 Jornalista Douglas Lima entrevista o secretário de planejamento do Amapá, Antônio Teles Júnior.

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