Revista Diário - 8ª Edição - Junho 2015
Revista DIÁRIO - Julho 2015 - 61 O geólogo Antônio Feijão lembra que nos dias 9 e 14 de abril de 2011 choveu muito mais na área daquela região do que agora em 2015, mas as cidades ao longo do rio Araguari não foram atingidas pelas águas como aconteceu neste ano. “Nesse período, choveu nada menos que 140 milíme‐ tros sobre as cabeceiras do Araguari, estimando‐se que em seis dias choveu 230 milimitros de água, não provocando uma inundação semelhante à que ocor‐ reu neste ano porque ainda não existia a hidrelétrica Cachoeira Caldeirão, e a Ferreira Gomes Energia es‐ tava na fase inicial das obras, além do fato de que a hidrelétrica Coaracy Nunes proporcionou o equilí‐ brio necessário por ter capacidade operacional para absorver reserva de água”. Antônio Feijão também lembra que em 2015 o fe‐ nômeno ocorreu na mesma época, já encontrando, en‐ tretanto, a hidrelétrica Cachoeira Caldeirão com água retida na ensecadeira. “Só que, de forma irresponsá‐ vel, a Cachoeira Caldeirão liberou a água da represa sem medir qualquer consequência, só avisando as ou‐ tras duas hidrelétricas dessa operação duas horas de‐ pois. E o que é mais grave ainda: a população de Fer‐ reira Gomes só foi informada de que a cidade seria inundada 30 minutos antes do evento”, denunciou o especialista. Durante a audiência pública ocorrida no dia 26 de junho, convocada pelo Tribunal de Justiça do Amapá, da qual participaram representantes do Ministério Público, representantes dos demais poderes e vítimas da inundação, várias foram as reclamações contra a UH Cachoeira Caldeirão que, de acordo com os depoi‐ mentos, agiu única e exclusivamente com a intenção de proteger o patrimônio da empresa em detrimento das consequências desastrosas que poderiam ser, co‐ mo na realidade foram, impostas à população. Durante a audiência, o juiz titular da Comarca de Ferreira Gomes confessou que foi pego de surpresa, embora estivesse no município: “Fui obrigado a cui‐ dar inicialmente da minha casa, que estava sendo inundada sem qualquer aviso prévio, e só depois é que pude cuidar do Fórum. Tudo ficou literalmente debaixo d’água, causando prejuízos incalculáveis à população e instituições que perderam documentos, patrimônio e até mesmo a dignidade, por obra e arte de atitudes nada convencionais”. ● Tragédia só não ocorreu em2011 porque não havia tantashidrelétricas ao longodo rio Foto exclusiva: Adson Almeida
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