Revista Diário - 8ª Edição - Junho 2015
Esportes UlissesLaurindo, comentarista esportivo P ermanece viva na memória dos brasileiros a me‐ lancólica participação da seleção de futebol na Copa de 2014, quando foi impiedosamente go‐ leada por 7 a 1 pelos alemães, colocando por terra o orgulho do país pentacampeão mundial e respeitado por todos como o melhor dos praticantes desse esporte no mundo. Depois do desastre, muitas vozes se levan‐ taram reclamando por novas ideias e estruturas nas entidades, nos clubes e na formação dos jogadores para então eclodir a revolução que se esperava. Decorrido menos de um ano, nova decepção pas‐ sam o futebol e a população brasileira com a elimina‐ ção nas quartas de final da Copa América, no Chile, e, pior, sem nada mostrar da evolução ansiosamente exi‐ gida em relação ao desastre na Copa. Para explicar es‐ ses dois fracassos não é difícil identificar as principais causas do problema. Sem obedecer a uma lógica cronológica é fácil se chegar a uma conclusão que passa, primeiramente, pe‐ la falência dos clubes quanto a recursos financeiros. Não foi só a Lei Pelé a responsável pela insolvência dos clubes, hoje devendo ao Fisco próximo a R$ 5 bilhões. A presença de intermediários na transferência de jo‐ gadores facilitou o caminho para dificultar o que sem‐ pre andou direito, ou seja, os clubes donos dos seus jogadores, com direito à receita no caso da ven‐ da de seus passes. Hoje, quando surge um ta‐ lento, logo é nego‐ ciado, por vários interesses, do empresário, que quase sem‐ pre leva a maior parte da transação, do clube que pre‐ cisa de recursos para manter seu regime profissional e do próprio jogador, visando a emancipação financeira e, ainda por fim, o dirigente na esperança de render al‐ go para ele. Esse, aliás, é um lado do desequilíbrio do futebol brasileiro atual. Não se pode desconsiderar a presença do marke‐ ting na seara do futebol. Acompanhamos os escânda‐ los da Fifa, todos provocados por agentes que, desres‐ peitando a ética esportiva, usaram meios ilícitos para atingir seus objetivos, misturando corruptos e corrup‐ tores. A queda do futebol foi global, com início, pela CBF que, comprando votos, dirigentes das federações se mantiveram por décadas no cargo sem atentar no crescente declínio do futebol que hoje sofre com as consequências. O êxodo dos melhores jogadores do país atraídos por mercados mais compensadores entra também na fraqueza do futebol brasileiro. Além desses aspectos, o que mais se exalta é a maneira inconsequente como é tratado o esporte no país. Ligado ao esporte por mais de 50 anos, sempre vi com preocupação a maneira como ele é tratado. Sem‐ pre lamentei a forma como a juventude é descuidada num segmento importante, absolutamente deixada ao relento sem as mínimas condições para se igualar aos que cuidam com carinho a juventude. Sempre disse que o jovem que brilha numa modali‐ dade carrega em si a vantagem de seu talento pessoal ou, esporadicamente, tem a ajuda de alguém. O mesmo jovem que é desassistido nas demais modalidades lo‐ gicamente é o mesmo que faz futebol. Noutros tempos os heróis dos campos partiam das várzeas, no convívio diários com a bola, e só muito tem‐ po depois era considerado craque, quando então pas‐ sava a receber a admiração dos torcedores. Os jogado‐ res modernos, em parte criados em laboratórios, não têm o amadurecimento, e muitos são considerados cra‐ ques, intempestivamente. Sem craques e sem estrutu‐ ra, o Brasil perdeu sua identidade, deixando muita tris‐ teza nos torcedores. ● UlissesLaurindo Declínio do futebol brasileiro Revista DIÁRIO - Julho 2015 - 67
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