Revista Diário - 30ª Edição

dam. Agora, a forma como as pessoasme criticam tema ver com o fato de eu ser mulher. Ninguémme critica pelas mi- nhas ideias, por quem eu sou. Sempre vão falar da minha aparência. Sempre vão me chamar de burra. Eu fui a pri- meira aluna brasileira a ser a primeira do curso de ciências políticas da Harvard, e me chamam de burra todos os dias, e me barram , e dizem que eu não tenho cara de deputada. mas isso faz parte. Vou continuar lutando, vou continuar com coragem. Diário – Qual é a sua visão de mundo, atualmente? Tabata – A visão de mundo que eu defendo é de um Brasil mais inclusivo, e aí eu resumo a educação. Todo mundo nasce com a mesma chance na vida, saindo do mesmo ponto de partida: possa entrar na faculdade, tenha chance de passa no vestibular, consiga umemprego de qua- lidade. Isso a gente faz combatendo a desigualdade; mas também é de um Brasil que seja mais desenvolvido, seja responsável, que topa fazer as reformas mais importantes. E eu coloco isso numa centro-esquerda. Diário – A senhora já disse que não nasceu para a política, e até comentou o seguinte: imagina se eu ti- vesse nascido. Por que, deputada, a senhora acabou mergulhando na política? Tabata – Acho que não nasci pra política, porque às vezes sou umpouco impaciente; frustro-me com as coisas erradas que a gente vê na política, mas acho que isso é bom, não é ruim, não, porque tenho coragem de questio- nar as coisas. Trabalhando com a educação por muitos anos, pra mim ficou evidente que a gente só consegue chegar a um Brasil que a gente quer, desenvolvido, inclu- sivo, se for pela política. Então entrei na política. Diário – A senhora também já disse que o Brasil é um país muito intolerável. Por quê? Tabata – Eu não disse intolerável, disse intolerante. O Brasil, hoje, está muito intolerante com ideias diferentes. Basta ver as redes sociais, a última eleição. A gente está muito dividido. E eu acho que tem a ver com a nossa de- sigualdade, que é abismal. As pessoas não têm ideia do tamanho da desigualdade do Brasil, não têm ideia de quantas pessoas pobres, extremamente pobres, temos ainda hoje. E essa intolerância na política é muito ruim, porque é muito violenta. Diário – Por onde a voz da senhora ecoaria mais forte numdebate entre esquerda, extrema esquerda, direita e extrema direita? Tabata – Eu me coloco na centro-esquerda. Acho que a gente precisa construir esse caminho para o Brasil, por- que acho que os extremos não resolvem o problema de ninguém. Diário – Com está o Brasil em termos de pesqui- sas? Tabata – A gente está vivendo um momento, que pra mim é muito absurdo, porque quando todos os países sé- rios, quando têm problemas econômicos, de desenvolvi- mento, é nesse momento que eles investem mais em pesquisas, educação, ciência e tecnologia, porque isso gera valor, produto, que gera inovação. E numa das maio- res crises que já tivemos no Brasil a gente está cortando tudo o que é investimento em pesquisa. Então pra mim isso é boicotar o nosso futuro, é boicotar o crescimento no longo prazo. Diário – Apesar dos pesares, a educação pública no Brasil vai ter avanços? Tabata – Vai ter avanços, se depender de mim e dos professores que estão nas salas de aula, dos ativistas pela educação. Só é muito duro, porque as pessoas ainda não entenderam quão urgente é a questão da educação. Mas a gente fez um grande avanço, que não podemos esquecer, que foi botar todo mundo na sala de aula, pelo menos na educação básica, nos primeiros anos. Meu pai dizia: na minha época escola pública era coisa de rico, e hoje em dia não é mais. Agora a gente tem que mudar a qualidade. Diário – Que avaliação a senhora faz do governo Bolsonaro? Tabata – Pra mim, o maior problema do governo Bol- sonaro é que ainda não entendeu que a eleição acabou. Então, tem muitas vezes que o presidente fala que eu sinto que ele está falando praquele um terço da população que o apoia, não para a população brasileira como um todo. Então, pra mim, um exemplo que mostra isso muito bem, é quando ele faz um discurso lá fora. Fala só de coi- sas do Brasil, não fala como líder de Estado. Ele fala de polêmicas do Brasil. Quando a gente está na Câmara, que a gente vê os discursos, parece que a eleição começou em 2018 e só vai acabar em2022, e a gente sabe que políticas públicas não se faz em período eleitoral. Então, o apelo que faço é que ele entenda que a eleição acabou, que ele desça do palanque pra conversar com as pessoas, porque o Brasil precisa avançar e do modo em que está só preju- dica os mais pobres. Diário – O voto é secreto, mas eu ouso perguntar: em quem a senhora votou pra presidente? Tabata – No primeiro turno, votei no Ciro Gomes; no segundo, no Haddad. Revista DIÁRIO - Edição 30 - 11

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